Economy and Society II de José Porfiro – Specific

1 de abril de 2012

DÍVIDA PÚBLICA DOS ESTADOS

Filed under: Ciências Econômicas, Política Econômica — Porfiro @ 3:26 PM

DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS: Renegociação não resolveu o problema
Elaboração: Flávio Riani (Professor da PUC-MG Coração Eucarístico e da Universidade de Itaúna e Assessor-Chefe Assessoria Econômica – SEF-MG,)
Célio Marcos Pontes de Albuquerque (Assessor Econômico – SEF-MG)

Finanças publicas e desenvolvimento economico em Minas Gerais : as implicações da renegociação da divida sobre as politicas de fomento estadual

disset 2006 IE-Unicamp

O Colapso das Finanças Estaduais e a Crise da Federação
Francisco Luiz Cazeiro Lopreato ARTIGOS

A crise global, segundo Francisco Lopreato

Enviado por luisnassif, qua, 10/08/2011 – 13:00

Dívida pública mineira: situação atual e perspectivas

Sustentabilidade da dívida pública dos estados brasileiros

João Gabriel Miranda Alves Pereira 2008 Disseração

 DÍVIDA PÚBLICA: UMA ABORDAGEM TÉORICA, UM RELATO histórico do RS

Disert 2000

Credibilidade e a questão fiscal de Estados e Municípios

DÍVIDAS E DÚVIDAS: ANÁLISE DOS LIMITES GLOBAIS DE ENDIVIDAMENTE DE ESTADOS E MUNICÍPIOS

Claudio Alexandre Rocha – 2007

A DÍVIDA DOS ESTADOS COM A UNIÃO

2010

Dívida dos Estados – Tesouro Nacional – Ministério da Fazenda

SANTOS, Gilton Carneiro dos. A dívida dos estados: composição, evolução e concentração. Brasília : ESAF, 1998. 29 p. Monografia agraciada com menção honrosa no III Prêmio de Monografia – Tesouro Nacional, Dívida Pública : dívida dos estados , ago ,98..

Dívida Consolidada Líquida dos Estados [DOCSGOOGLE]

Estados e Municípios – STN – MF

A DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS: OS LIMITES DO AJUSTE

RESUMO Raul Marmo Guimarães Dissertação 2003

DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ: Perfil, Evolução e Perspectivas
Cláudio André Gondim Nogueira, Marcos Costa Holanda e Ronaldo de Oliveira Almeida
Fortaleza-CE – Maio/2003

dívida Pública do Estado do Amazonas

Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a dívida pública da União, Estados e Municípios, o pagamento de juros da mesma, os beneficiários destes pagamentos e o seu impacto nas políticas sociais e no desenvolvimento sustentável do País maio 2010

A razão para mudar o artigo 14 da LRF  [+ ICMS x Com Eletrônico]
por Ribamar Oliveira
Valor Econômico – 19/04/2012
A verdadeira razão para o governo querer mudar o artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que trata das condições impostas para a concessão de incentivo tributário da qual decorra renúncia de receita, é o acórdão 747 do Tribunal de

28 de março de 2012

CARTA DO ACRE

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 9:03 AM

Carta do Governo do Acre ao Fórum de Governadores da Amazônia

26/03/2012 – 20:02
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FÓRUM DE GOVERNADORES DA AMAZÔNIA
CARTA DO GOVERNO DO ACRE
CONTRIBUIÇÃO À REUNIÃO DOS GOVERNADORES DA AMAZÔNIA PARA A AGENDA RIO+20

Brasao_Acre_____

A agenda Amazônica à qual o Acre está inserido tem como paradigma o desenvolvimento sustentável, interesse direto na materialização da “Economia Verde”, com alta inclusão social e preservação efetiva dos recursos naturais. Tais diretrizes convergem com a história vivida nos últimos 25 anos, por gerações inquietas com a falta de resposta humana e ambiental para os povos do Acre.

Conviver com indicadores sociais dolorosos, qualidade de vida urbana e rural precárias, destruição dos ambientes naturais de modo incoerente, parecia uma sina do viver amazônico Ocidental. É uma necessidade, e uma dívida da nação, uma política para os povos indígenas e outras populações tradicionais com ampla participação dessas comunidades que nunca tiveram a atenção e o direito elementar de serem ouvidas nas diretrizes de Estado que decidem o seu destino.

Forças desenvolvimentistas apontavam modelos de subsistência, ou arranjos econômicos deslocados da realidade com trágicas consequências regionais e, sobretudo, ataque aos ambientes naturais, como, expressados, por exemplo, nos movimentos migratórios, exploratórios e minerais.

Durante mais de cem anos o Acre alternou ciclos econômicos, sem substância socioambiental, prevalecendo traços dos modelos importados alheios ao imenso “jardim de Deus”, e grande patrimônio estratégico nacional que é a nossa região. Fizemos a travessia pouco científica dos ciclos da borracha e da castanha; mesmo que tenham sido tão úteis aos pressupostos da “Revolução Industrial” e, à grande aliança internacional tão necessitada da “Borracha Amazônica”.

Os anos 70 fizeram ecoar mata afora o grito de gerações que diziam não a esses modelos predatórios, mas sim ao que hoje chamam a grande agenda global do socioambientalismo com coerentes respostas econômicas.

Inserimos-nos lado a lado com experiências inovadoras, capazes de gerar curvas afirmativas dos indicadores de desenvolvimento e permitir a preservação do grande patrimônio estratégico natural, que é  o fundamento  para o desenvolvimento sustentável, a mudança do paradigma de vida e do futuro da região amazônica e do Brasil.

Afirmamos o valor das políticas públicas com credibilidade das instituições públicas, avanços sociais, respeito aos povos indígenas e tradicionais, infraestrutura aos eixos de desenvolvimento, manejo florestal com marcos regulatórios respeitados, zoneamento ecológico-econômico, criação do sistema de áreas naturais protegidas, gestão dos recursos hídricos, certificação dos produtos florestais, áreas econômicas especiais para exportação, incorporação de tecnologia para produção de frutas em escalas industriais, cadeias produtivas agroindustriais, de peixes e pequenos animais, tecnologia ao uso de atividades extensivas e tradicionais como a pecuária e o extrativismo vegetal.

Constituímos credibilidade junto aos organismos nacionais e internacionais para o fomento ao desenvolvimento, assim, triplicamos o PIB e alcançamos curvas auspiciosas para os indicadores sociais e econômicos, em 13 anos na construção do Desenvolvimento Sustentável como Política Pública no Estado.

O grande desafio do Acre, hoje, e pressupomos para a Amazônia, é uma agenda de desenvolvimento integrada, com clareza dos grandes eixos de desenvolvimento, direcionados para a Economia Verde, Saneamento Ambiental, Crédito, Infraestrutura Amazônica e, incentivos para Indústria que contemplem a valorização diferencial da produção e cadeia produtiva sustentável e inclusiva.

É urgente criar uma presença forte e articulação permanente do Governo Federal, com protagonismo do Ministério das Relações Exteriores e Ministério do Meio Ambiente, para umaAgenda Integrada de Desenvolvimento com os Estados da Amazônia Legal. O comprometimento do país com a Amazônia pressupõe estabelecer uma política externa protagonista no âmbito internacional que objetive maior cooperação com organismos internacionais de crédito, política comercial internacional e, sobretudo, a definição da Agenda internacional para Amazônia.

Na esteira do apoio e solidariedade sempre presente da presidência da Republica, na gestão do ex-presidente Lula e atualmente com nossa Presidenta Dilma, o Acre propõe como fortalecimento dessa ação integrada para Agenda nacional e internacional da região amazônica uma cooperação do Governo Federal, coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Defesa.

A construção dessa Agenda para um diálogo permanente, conjuntamente com os Estados Federativos preconiza a criação de um Conselho de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia Legal, integrado ao Conselho Mundial de Desenvolvimento Sustentável. Essa é a modesta contribuição do Acre para a Rio+20.

Nesse contexto, destacamos comopontos importantes e prioritários para a Agenda Integrada de Desenvolvimento da Amazônia:

 Os desafios impostos pelo processo de mudanças climáticas globais exigem ações imediatas para a modificação de nossos padrões de consumo, a manutenção da biodiversidade e fontes alternativas de energia para estabelecer uma economia de baixo carbono, intensiva e sustentável que promova a manutenção dos produtos e serviços ecossistêmicos para as atuais e futuras gerações;

 Especial atenção deve ser dispensada ao desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação, como forma de traduzir a grande riqueza em biodiversidade e recursos naturais da região em produtos competitivos e de alto valor agregado, dinamizando a economia regional e contribuindo com a humanidade, principalmente na área de bioprospecção para produção de fármacos.

 A cooperação na área de fronteiriça pressupõe a necessidade de estratégias, planos de ação e mudança nos atuais sistemas de controle territorial dos Estados, de forma a inverter as condições de forte desigualdade social e alto nível de pobreza na região, além de potencializar o capital natural nas bases da economia local e regional e soluções para pressões internacionais sobre questões específicas, ligadas notadamente grupos indígenas, ribeirinhos e seringueiros.

 Formulação de uma política ambiental que vá além das estratégias de comando e controle, e potencialize o uso econômico dos recursos florestais e serviços ambientais, programas de infraestrutura e saneamento que atendam as especificidades da região, financiamento e incentivos direcionados para formação de ativos florestais e ambientais, ciência, tecnologia e inovação, qualificação para formação de capital humano, e mecanismos de inserção da Amazônia na economia global, principalmente, por meio de seus ativos ambientais.

 A diversidade cultural da Amazônia é um patrimônio de valor inestimável que serve de alicerce para qualquer estratégia de desenvolvimento sustentável, que pressupõe valorizar as identidades e as expressões culturais dos povos da Amazônia; desenvolver programas de pesquisa e de preservação do patrimônio histórico e cultural, com especial atenção para os sítios arqueológicos; incluir conteúdo regionalizado sobre a diversidade cultural nos programas de ensino, em todos os níveis de formação;

 A Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) é um instrumento primordial para salvaguardar os direitos indígenas já conquistados e garantir a qualidade de vida, a soberania alimentar e a manutenção dos seus modos de vida tradicionais.

Belém – PA, 26 de março de 2012

Tião Viana

Governador do Estado do Acre

24 de fevereiro de 2012

Public Sector Economics

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 4:32 PM

Governança das Organizações do Setor Público
Ementa: Apresentação dos marcos teóricos da governança no setor público, compreendendo sua aplicação na gestão das organizações públicas e na gestão de políticas públicas.
Programa: Princípios de Governança no Setor Público; O Estado Rede e papel da governança – as contribuições da economia (teoria da agência), da ciência política (análise de stakeholders) e da administração (modelos de gestão e estrutura organizacional); Transparência, qualidade e informação nas organizações públicas; A intersetorialidade nas políticas públicas e a coordenação inter-organizacional. Mecanismos de articulação entre Estado e Sociedade. l
Bibliografia básica:
MOORE, Mark. Criando Valor Público. Brasília: Ed. Uniletras/ ENAP, 2002.
ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana de. Governança Corporativa: Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências. São Paulo: Ed. Atlas. 2004;
STIGLITZ, Joseph. Mejorando la eficiencia y la capacidad de respuesta del sector publico: lecciones de la experiencia reciente. Reforma y Democracia, Revista del CLAD, n. 22, 2002

http://www.fea.usp.br/feaecon//posgraduacao.php?i=206

EAE5705 – Macroeconomia do Setor Público

EAE5829 – Economia do Setor Público

EAE5983 – Políticas Públicas

Especialização em Políticas Públicas IE

 

Agências reguladoras: basta vigiar e punir?
Autor(es): Floriano de Azevedo Marques Neto
Correio Braziliense – 27/02/2012

17 de dezembro de 2010

FPA COMPENSANDO XAPURI – FIM DO 3º GOVERNO

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 8:05 AM

Obras e homenagens marcam a data do aniversário de Chico Mendes

Jornal Página 20 – 17-Dez-2010

Prêmio que leva o nome do líder seringueiro encerrou a programação da Semana Chico Mendes em Xapuri

Se Chico Mendes fosse vivo teria completado 66 anos no dia 15. Uma extensão programação foi montada em Xapuri para comemorar a data, encerrada com a entrega do Prêmio Chico Mendes. Este ano a cerimônia ocorreu dentro da Igreja de São Sebastião, que carrega um simbolismo na história do líder seringueiro.

Oito importantes obras foram entregues à população, incluindo um Centro de Assistência Social (CRAS), 28 unidades habitacionais e a ponte que liga o bairro Braga Sobrinho, também conhecido como Bolívia, ao centro da cidade. Este é o segundo ano que o Prêmio Chico Mendes, iniciativa que premia personalidades e instituições que tenham um trabalho que segue os ideais do líder seringueiro, acontece em Xapuri.

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  • Reforma da Fonte do Bosque e da ponte do bairro Bolívia
  • Complexo turístico do entorno da Casa de Chico Mendes (Memorial do Seringueiro, Café Regional e Casa do Artesão)
  • Reforma do Ginásio Álvaro da Silva Mota
  • Iluminação do Estádio de Futebol
  • Reforma do CRAS
  • Fábrica de Bolas Ecológicas
  • Núcleo de Artesanato e Oficina Entalhe em Madeira
  • 28 Unidades habitacionais

(Agência de Notícias do Acre)

25 de novembro de 2010

POLO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – XAPURI

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 3:16 AM

Xapuri será Polo do Conhecimento Sustentável no Brasil

Qua, 24 de Novembro de 2010 14:17 Agazeta

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Xapuri se tornará um município polo do conhecimento sustentável. O Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), instituição internacional de estudo com sede na Costa Rica, implantou oficialmente nesta terça-feira, 24, seu escritório técnico nacional naquele município, cujo prefeito, Bira Vasconcelos, assinou o decreto número 42/2010 criando o Polo de Conhecimento de Xapuri. Além disso, o governador Binho Marques encaminhou à Assembleia Legislativa a mensagem do projeto de lei que cria o Programa Estadual de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável.

 A cerimônia, parte da programação do Seminário Desenvolvimento Sustentável nas Florestas Tropicais, foi realizada no auditório da Biblioteca Pública do Acre. Entre outros, são instituições membros do programa o Banco de Cooperação Alemã (GTZ); Associação Brasileira de Sorvetes; Institute os Soil Science and Site Ecology – Dresden University of Technology; Center For Sustainable Resource Development; CIAT (agência da Colômbia); e Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). 
Participaram do ato o presidente da Assembleia Legislativa, Edvaldo Magalhães; o prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos; a reitora da Universidade Federal do Acre, Olinda Batista; Helmuth Eger, diretor do GTZ Brasil; além de secretários estaduais, estudantes, ativistas socioambientais e pesquisadores nacionais e internacionais. “Avaliamos dois fatos neste evento: primeiro é um marco para o Acre e para o Brasil a organização do conhecimento e, depois, faz parte de um sonho, o sonho de Chico Mendes.

O CATIE é uma instituição internacional cuja missão é de reduzir a pobreza rural por meio da educação, pesquisa e cooperação técnica, além de promover a gestão sustentável da agricultura e recursos naturais. “Estar aqui é uma oportunidade muito grande. Quando o governador esteve na Costa Rica e falou de uma Nova Economia, baseada em baixo carbono e alta inclusividade eu disse: esta é a proposta do Catie”, disse José Joaquím Campos Arce, diretor geral do CATIE, resumindo a interatividade das propostas do Acre e de sua instituição.

O governador Binho Marques esteve na sede do CATIE em maio passado, onde deu importantes passos para a instalação do escritório da organização em solo brasileiro. O Catie estabelece no Acre formando uma capacidade de recursos humanos essencial ao projeto de desenvolvimento sustentável que ao mesmo faz com que o Estado tenha maior distribuição de riqueza preservando o ambiente. O CATIE agrega empreendedorismo às questões da sustentabilidade no Acre. O governador sintetizou os resultados dos 12 anos de governo da Frente Popular: “estamos concluindo esse período de três governos com realizações que nós mesmos não imaginávamos”.

Antigo parceiro do Acre, o GTZ se mantém como grande colaborador do trabalho desenvolvido no Estado. “O desenvolvimento do Acre nos últimos anos é mais que a concretização de um sonho. É um exemplo de implementação de políticas públicas”, observou Helmuth Eger, diretor do GTZ no Brasil.

“O que começou como sonho termina como marco institucional.
Eufran Amaral, secretário de Estado do Meio Ambiente, sobre o conjunto de leis e ações da política de sustentabilidade no Acre

A grande aliança em favor da sustentabilidade
A Costa Rica é o país-sede do CATIE, que tem 13 outras nações como membros. O país desenvolveu instrumentos que ao mesmo tempo valorizam, mantêm e geram renda a partir de sua biodiversidade e do conhecimento acerca dela. A Costa Rica chegou a ter apenas 20% de suas florestas, mas trabalhou para recuperá-la e hoje tem mais de 50%, projetando chegar a 60% em breve. 
O CATIE combina a ciência, a pós-graduação e de cooperação técnica para alcançar essa meta. Instituição sem fins lucrativos, o CATIE gera renda e recebe contribuições de países membros para financiar parcialmente suas atividades para cumprir a sua investigação, educação e sensibilização da comunidade. Ele também tem o apoio de patrocinadores e doadores de vários países que se comprometeram a cumprir a sua missão.

No ato desta terça-feira, a instituição também assinou acordo de cooperação técnica com a Ufac. O documento foi firmado entre Olinda Batista e José Joaquín Campos Arce.  “A Ufac segue avançando em suas propostas e desafios”, resumiu a reitora, agradecendo ao esforço do Governo do Estado no fortalecimento da universidade pública.

O que é o Programa de Promoção e Fomento do Conhecimento Sustentável?
O Programa Estadual de Promoção e Fomento do Conhecimento Sustentável será implantado pela Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia. Prioritariamente, o programa será concretizado através do Polo de Conhecimento de Xapuri, instituído pelo projeto de lei encaminhado à Aleac como uma unidade territorial integradora do conjunto de ações de promoção e fomento às atividades voltadas para o conhecimento, seja de ensino, formação, pesquisa ou desenvolvimento tecnológico no Estado do Acre.  O programa está baseado nos seguintes princípios: 1) uso dos recursos naturais com responsabilidade e conhecimento técnico para proteção e integridade do sistema climático em benefício das presentes e futuras gerações; 2) desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias orientadas para o uso racional dos recursos ambientais; difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgação de dados e informações ambientais e formação de uma consciência pública sobre a necessidade  de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.     
A manutenção do programa se dará também  pela captação de recursos junto aos Fundos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de Florestas. O programa prevê renúncia de impostos para atividades de estudo e pesquisas em Xapuri. “Queremos transformar uma região rica em alternativa de desenvolvimento sustentável”, disse o governador Binho Marques. (Agência Acre)

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Xapuri se consolida como pólo de conhecimento Imprimir E-mail
Escrito por Edmilson Ferreira   
14-Dez-2010
Instituto Federal de Educação Profissional amplia rede e garante campus com cursos técnicos e de nível superior em Xapuri
Parceria entre as três esferas de Governo – federal, estadual e municipal – faz Xapuri seguir se consolidando como pólo do conhecimento na região Norte. Em reunião com o governador Binho Marques e o prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos,  o secretário nacional de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco,  assegurou a implantação do Campus Avançado de Xapuri do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre  (Ifac), que já em 2011 estará ofertando 80 vagas de nível superior em Ciências da Natureza e de Gestão Ambiental, além   de ampliar a oferta de cursos técnicos possivelmente com o ensino médio integrado.  

“Queremos fazer daquele município um ambiente do conhecimento”, disse o governador, lembrando que grandes passos foram dados nessa direção: o  Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), instituição internacional de estudo com sede na Costa Rica, implantou oficialmente este mês  seu escritório técnico nacional naquele município, e o prefeito  Bira Vasconcelos  decretou a criação do  Polo de Conhecimento de Xapuri. Além disso, Universidade de Brasília (UnB e Universidade Federal do Acre (Ufac) mantém cursos de graduação e especialização. Os cursos são voltados ao desenvolvimento sustentável.

Na base do acordo está a transferência de uma escola estadual para o MEC implantar o campus do Ifac. O encontro foi realizado no Gabinete do Governador e estiveram presentes assessores do MEC e o diretor-presidente do Instituto Dom Moacyr de Educação Profissional, Irailton Lima. Ainda no começo de dezembro, o governador Binho Marques pediu a aprovação do  Programa Estadual de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, que prioritariamente  será concretizado através do Polo de Conhecimento de Xapuri, instituído pelo projeto de lei encaminhado à Assembleia Legislativa  como uma unidade territorial integradora do conjunto de ações de promoção e fomento às atividades voltadas para o conhecimento, seja de ensino, formação, pesquisa ou desenvolvimento tecnológico no Estado do Acre.  O programa está baseado nos seguintes princípios: 1) uso dos recursos naturais com responsabilidade e conhecimento técnico para proteção e integridade do sistema climático em benefício das presentes e futuras gerações; 2) desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias orientadas para o uso racional dos recursos ambientais; difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgação de dados e informações ambientais e formação de uma consciência pública sobre a necessidade  de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.    

A manutenção do programa se dará também  pela captação de recursos junto aos Fundos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de Florestas. O programa prevê renúncia de impostos para atividades de estudo e pesquisas em Xapuri. “Buscamos  atender a sociedade acreana com ensino técnico e superior neste próximo ano em Rio Branco, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul também, e em Xapuri as condições são ainda mais especiais, pois atualmente não há nenhum curso superior na região que atenda a demanda de formação dos jovens. Com mais esta parceria com o Governo do Estado, ofereceremos neste primeiro semestre de 2011, o tecnólogo em Gestão Ambiental e mais uma licenciatura”, afirmou o reitor do Ifac, Marcelo Minghelli, lembrando que a demanda pelos cursos superiores veio da socieadade. “É mais um presente que o Governo Federal e o governador BInho Marques dá ao povo de Xapuri”, comemorou o prefeito Bira Vasconcelos.  

No encontro  com o governador, o reitor do Ifac reforçou a proposta de manter a ampliação das atividades dialogando verticalmente e harmonicamente com os atores institucionais do Estado. Entre outras ações, existe a proposta de realização de um  fórum no início do próximo ano para discutir com a sociedade a expansão do Ifac,  criando, por exemplo,  o Núcleo de Certificação, mais dois campus  e a escola binacional.

Eliezer Pacheco, acompanhou  Marcelo Minghelli  em visita técnica as obras do campus Rio Branco no bairro Xavier Maia.  Pacheco prestou esclarecimentos públicos sobre investimento na educação técnica e profissional, oferta de cursos técnicos e superiores gratuitos para a população do Acre e  construção  de núcleos em Cruzeiro do Sul,  Xapuri e Rio Branco. “A partir de agora podemos garantir já para 2011 dois cursos importantes que certamente irão favorecer muito a comunidade de Xapuri”, reafirmou Pacheco.

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23 de novembro de 2010

TIÃO VIANA

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 4:06 PM
já tem vários nomes para integrar sua equipe
23/11/2010 14:28
Apesar do clima de mistério, nossa reportagem conseguiu informações de alguns nomes que poderão assumir cargos importantes no Governo do Acre.
Wânia Pinheiro, da Agência ContilNet
O professor Rego comanda a equipe de transição
O professor Rego comanda a equipe de transição

O terceiro andar do prédio do Mira Shoping, que abriga a equipe que trabalha a transição do futuro governo do senador Tião Viana (PT) apresentou um aumento em sua movimentação durante esta semana.

Na ampla sala, dividida por vários módulos, dezenas de pessoas trabalham em mesas provisórias, abrindo espaços para diálogos reservados, cujo objetivo é o de definir de forma plural e ao mesmo tempo discreta o grupo que comandará o quarto mandato da Frente Popular do Acre (FPA) frente ao Governo do Estado. …SEGUE

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GOVERNO TIÃO

Começa a transição

Escrito por Da redação

04-Nov-2010 – Jornal Pagina 20
Tião Viana e Binho Marques preparam equipes que vão formular plano do próximo governo
O governador eleito Tião Viana e o governador atual, Binho Marques, acabam de pôr em marcha o processo de transição entre o governo que se encerra em 31 de dezembro e o que toma posse em 1º de janeiro de 2011. Os nomes dos futuros secretários e assessores do próximo governo só serão de fato conhecidos no dia 18 de dezembro, um dia após a diplomação pela Justiça Eleitoral dos eleitos em 3 de outubro, anunciou o próprio Tião Viana. Até aqui, apenas o professor José Fernandes do Rego, ex-vice-governador do Estado (governo Joaquim Macedo) e um dos técnicos de confiança da Frente Popular do Acre (FPA), foi anunciado pelo governador eleito. Ele será o coordenador da equipe de transição e de formação do plano de governo a ser executado até 2014.

 

 

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20 de novembro de 2010

ACRE x BNDES

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 12:08 PM

Binho assina contrato de R$ 70 milhões com BNDES para fortalecer ações ambientais no Acre

Da Agência de Notícias do Acre ; Sáb, 20 de Novembro de 2010 09:30

O governador Binho Marques e dirigentes do BNDES assinaram nesta sexta-feira, 19, contrato que destina R$ 70 milhões para um projeto de fortalecimento das ações ambientais no Estado, com recursos provenientes do Fundo Amazônia. São R$ 60 milhões do BNDES e R$ 10 milhões de contrapartida do governo acreano.

A assinatura ocorreu em Brasília, com a presença de secretários de estado e assessores. Pelo BNDES, participou o diretor das áreas de Inclusão Social e de Crédito, Elvio Gaspar.
Os recursos, não reembolsáveis, irão para o projeto Valorização do Ativo Ambiental Florestal. O objetivo da iniciativa, com duração de 36 meses, é fortalecer e ampliar a atual política pública estadual de valorização do ativo ambiental por meio da gestão territorial integrada, de ações de fomento às cadeias produtivas florestais e agroflorestais e de incentivo técnico e financeiro aos serviços ambientais.

“Não estamos criando um projeto novo, mas fortalecendo o que já existe. O futuro governador Tião Viana poderá dar continuidade à esses projetos que começaram em 1999. Fico feliz em saber que uma instituição sólida como o BNDES vê no Acre uma referência”, afirmou o governador Binho Marques. “Dizemos aos outros estados que só financiamos projetos que tenham um bom planejamento e que eles podem aprender muito com o Acre”, ressaltou Elvio Gaspar.

O Estado do Acre é considerado modelo na promoção de políticas para o desenvolvimento sustentável e para a implementação de atividades produtivas alinhadas com a conservação da floresta. O projeto, que complementa uma série de ações integradas e articuladas entre diversos órgãos do governo estadual e outras instituições parceiras, está estruturado em dois grandes blocos de atuação independentes.

No primeiro deles, o foco é a consolidação da estratégia de gestão territorial fundamentada no Zoneamento Ecológico-Econômico. Entre as ações previstas estão: fortalecimento do Instituto de Meio Ambiente do Acre e da Secretaria Estadual de Florestas; modernização da Unidade Central de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto (UCEGEO); e elaboração de Planos de Prevenção e Controle de Desmatamento e Queimadas Municipais, a ser realizado em parceria com as prefeituras.

O segundo componente do projeto prevê ações de fomento às cadeias produtivas florestais e agroflorestais para a redução do desmatamento e de incentivos aos serviços ambientais em duas áreas definidas como prioritárias pelo governo, por sofrerem influência direta das obras da rodovia BR-364 (que liga a capital, Rio Branco, à cidade de Cruzeiro do Sul).

Com  2,1 milhões de hectares – sendo 895 mil no município de Tarauacá (Área 1) e 1,2 milhões nos municípios de Feijó e Manuel Urbano (Área 2) -, essas duas áreas envolvem 10 cooperativas de manejadores florestais e de pequenos agricultores, além de três associações indígenas. Aproximadamente 12 mil pessoas serão beneficiadas.

O foco nas pequenas propriedades é resultado da dinâmica de desmatamento registrada atualmente no Acre. Apesar da queda contínua dos últimos anos – houve redução de 72% entre 2005 e 2009, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – há uma crescente participação dos desmatamentos em áreas inferiores a 5 hectares, que correspondem a cerca de 60% dos polígonos de desmatamento. Do desmatamento total do Estado até 2009, 35% ocorreu em projetos de assentamento, que concentra metade da população rural do Estado.

Um laboratório para seleção de mudas florestais e frutíferas também deverá ser criado, aperfeiçoando a eficácia de plantio e dando escala para atender ao crescimento da demanda. Cabe ressaltar que a produção florestal do Acre (madeireira e não madeireira) é a atividade econômica mais importante do Estado, responsável por 16,8% do valor bruto da produção, enquanto que a agropecuária participa com 4,8%. A floresta da região possui uma variedade de produtos demandados pelas indústrias cosmética, alimentícia e farmacêutica, entre eles açaí, copaíba, unha-de-gato, andiroba e buriti.

“Esse projeto permite que não sejam apenas investimentos em fiscalização, mas em alternativas de produção sustentável”, salienta Binho Marques. “O Acre está trilhando um caminho de sucesso. Temos como exemplo a sanção da Lei que cria o Sistema de Informações Ambientais (SISA) e o ato de hoje mostrou que nosso estado está no rumo certo”, afirmou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edvaldo Magalhães, que também esteve presente na ocasião.

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Assinatura do contrato garante novos investimentos no Acre (Foto:
 
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Binho entrega O Casarão revitalizado ao povo do Acre

Sáb, 11 de Dezembro de 2010 20:07 Agazeta
….
O Governo do Estado investiu R$ 834.805,36, sendo que R$ 256.583,50 são recursos do Governo Federal, obtidos através de emenda parlamentar proposta pela deputada Perpétua Almeida; R$ 75.672,19 do BNDES e R$ 502.549,67 do Tesouro Estadual.
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19 de novembro de 2010

JOSÉ FERNANDES DO RÊGO

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 7:01 AM

A MISSÃO, LA MISIÓN, LA MISSIONE, THE MISSON

Link

 

 

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13 de novembro de 2010

INFRAESTRUTURA ACRE

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 11:15 PM
Federações das Indústrias da Amazônia Legal promovem revolução logística Imprimir E-mail
Escrito por   
13-Nov-2010 jornal página 20
Resultado do Projeto Norte Competitivo sobre a infraestrutura logística da região é apresentado para empresários e autoridadesA implantação de uma infraestrutura logística, englobando todos os modais de transportes (ferrovias, hidrovias, rodovias e portos), é uma das maiores demandas do setor produtivo brasileiro e será um dos grandes desafios do próximo governo. Pela primeira vez, surge um estudo aprofundado, o Projeto Norte Competitivo, indicando quais são os eixos de integração de transportes e quais as obras prioritárias demandadas. O estudo, que demandou mais de um ano, foi encomendado à consultoria Macrologística pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio da Ação Pró-Amazônia, que engloba as Federações das Indústrias dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).O resultado deste levantamento e a real situação da infraestrutura logística da região foi apresentado a autoridades e classe empresarial local, na noite de quinta-feira, 11, no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Acre (FIEAC), pelo diretor da Macrologística, Olivier Girard. “Estamos começando a apresentação pelo Estado do Acre, vocês estão recebendo os resultados em primeira mão”, destacou Girard. Além de expoentes do setor produtivo, estiveram presentes os senadores eleitos, Jorge Viana e Sérgio Oliveira (Petecão), deputados, prefeito Raimundo Angelim e secretários de Estado. Trata-se de um estudo único, que analisa a complexa realidade socioambiental e geográfica da região e propõe a implementação de uma infraestrutura de transporte – baseada em eixos de desenvolvimento – que forme um sistema de logística integrado, sem fronteiras estaduais, e intermodal, privilegiando aqueles de menor custo.PROJETO Norte Competitivo indica eixos de integração de transportes e obras prioritárias para a região “Esta iniciativa é de fundamental importância para o crescimento do setor produtivo do nosso Estado, da nossa região e até mesmo dos países vizinhos”, acredita João Francisco Salomão, presidente da FIEAC. “Vocês estão de parabéns pelo projeto, que é de suma importância e um momento oportuno”, elogiou Gilberto Siqueira, secretário de Estado de Planejamento. “Este é um trabalho muito bonito”, endossou George Pinheiro, presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado do Acre (Federacre).

O Projeto Norte Competitivo aponta quais são os nove eixos de integração prioritários que permitirão reduzir os custos logísticos da Amazônia Legal, aumentando a competitividade da região. Para viabilizar o desenvolvimento desses eixos principais, são necessários investimentos da ordem de R$ 14,1 bilhões. A estimativa de economia no custo de logística total da Amazônia Legal, que atualmente está em R$ 17 bilhões e que chegará em R$ 33,5 bilhões com o volume de produção previsto para 2020, alcançará R$ 3,8 bilhões anuais. Ou seja, o investimento total previsto se pagaria em menos de quatro anos com as economias obtidas.

“Outro ponto fundamental é que obtivemos a união de todas as Federações das Indústrias da região. Não tenho dúvidas de que esse projeto vai revolucionar a logística não só da região como de todo o país. Precisamos unir esforços para trazer desenvolvimento sustentável para a Amazônia Legal e, por consequência, para o Brasil”, afirma José Conrado Santos, vice-coordenador da Ação Pró-Amazônia e presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa). O dirigente lembra também que o Projeto Norte Competitivo recebeu total respaldo da CNI, presidida por Robson Braga de Andrade, também pelo potencial de integração nacional, já que as análises levaram em consideração eixos de transportes nacionais e internacionais (saída pelo Oceano Pacífico e pelo Caribe).

De acordo com o engenheiro Renato Pavan, sócio da Macrologística, que já desenvolveu projetos similares para Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo, além de Santa Catarina, a estratégia foi identificar os sistemas de logística de menor custo, compostos por grandes eixos de transporte intermodais que pudessem tornar a Amazônia Legal mais competitiva. “Mapeamos as 16 principais cadeias produtivas, responsáveis por 95% da produção local e 98% de tudo o que é exportado ou importado pela região, e também projetamos o aumento da produção até 2020. A situação hoje já é ruim. Temos que investir fortemente em infraestrutura para suportar o crescimento da produção até 2020 e também nos tornarmos mais competitivos, por meio da redução do custo”, explica. A análise das cadeias produtivas englobou mais de 50 produtos diferentes, que foram mapeados e projetados em âmbito municipal e para os quais foram feitas matrizes origem-destino, já que isso influencia no custo de transporte.

Uma equipe de mais de dez pessoas trabalhou em tempo integral no levantamento completo da atual infraestrutura da Amazônia Legal. Portos, aeroportos, armazéns, hidrovias, ferrovias, dutovias e rodovias de uma região quase do tamanho da Europa foram mapeados e tiveram suas condições de uso analisadas, com a identificação das obras necessárias para modernização e ampliação. “Chegamos a 151 obras necessárias: 112 em eixos no Brasil e 39 em eixos internacionais. Para realizar todas essas obras, seriam necessários R$ 51,8 bilhões, dos quais R$ 45,8 bilhões em território nacional. O país não tem condições de investir esses recursos de uma só vez. Por isso, é preciso priorizar os projetos estruturantes com base em uma análise sistêmica dos fluxos de transporte”, comenta Olivier Girard, sócio da Macrologística e responsável direto pelo projeto. Assim, foi possível identificar quais eram os principais gaps de infraestrutura, que necessitariam de investimentos prioritários.

Principais rotas de escoamento

Identificados os locais de produção, os tipos de produtos e o destino final, foi possível traçar as principais rotas de escoamento. Nessa etapa, um modelo otimizador desenvolvido especialmente para o projeto identificou os eixos de transportes mais eficientes (mais rápidos e baratos). Esse software analisou 32 origens, 38 destinos e 33 diferentes tipos de produtos que se utilizam de uma malha logística composta por 932 rotas de ligação entre as diferentes origens e destinos. Foram também imputados parâmetros de custos de frete interno, transbordo, tarifas portuárias e frete marítimo para todo o tipo de transporte (hidro, ferro, aéreo, rodo, portos, aeroportos) e carga (granel agrícola, granel mineral, carga geral, granel líquido, contêineres).

Assim, foram identificados 42 eixos de integração de transporte, incluindo 13 eixos internacionais. Cada um deles teve sua competitividade analisada. Desse total, 32 geraram economias significativas. A hidrovia Juruena/Tapajós, por exemplo, foi a que apresentou maior potencial de redução no custo logístico, tanto com o volume de produção de 2008 (economia anual de R$ 921 milhões) quanto na projeção para 2020 (R$ 1,857 bilhão). 

A partir das informações dos eixos de transporte mais eficientes e também das obras necessárias para a modernização/implementação/ampliação desses corredores intermodais, passou-se à próxima etapa, que colocou uma variável fundamental: o custo das obras, para encontrar o retorno sobre o investimento. Levou-se em consideração também o estágio atual das construções. Algumas precisariam começar do zero. Em outras já foram feitos investimentos.

Quando se fala de infraestrutura, no entanto, não é possível analisar somente questões financeiras. Impacto no meio ambiente, ainda mais em uma região tão importante quanto a Amazônia, possibilidade de integração regional e potencial de desenvolvimento socioeconômico também foram levados em consideração. Cada uma dessas mais de 150 obras de infraestrutura listadas ganhou notas conceituais após o estudo dos impactos ambientais, dos benefícios sociais, da integração regional e do potencial de geração de empregos e tributos. Eficiência gera menos impacto no meio ambiente. A relação de emissão de monóxido de carbono é de 1 para hidrovia, 10 para ferrovia e 50 para rodovia. Como, nos dias de hoje, o transporte da produção da região é realizado, em grande parte, por rodovias precárias, sem qualquer condição de uso, o aprimoramento do sistema de transporte vai automaticamente se traduzir na mitigação do impacto ambiental, com o tratamento adequado de todos os problemas.

Com dados sobre retorno de investimento e também de impacto socioambiental, foi desenhada uma matriz de priorização dos investimentos para essas obras, seguindo a lógica econômica de atratividade para o investidor privado e as diferentes modelagens de financiamento: serem financiadas pelo poder público, pela iniciativa privada ou mesmo a partir do modelo de Parceria Público-Privada (PPP), administrativa ou patrocinada. “Temos que acordar para a urgência dos investimentos em infraestrutura. Somos um dos países mais competitivos do mundo em diversos produtos. No entanto, basta sair da fábrica ou da fazenda e já começamos a perder competitividade”, afirma Olivier Girard.

O Projeto Norte Competitivo passa agora à fase de implantação, com a criação de uma força-tarefa com dedicação plena, formada por um grupo multidisciplinar, que elaborará e implementará um Plano de Ação conjunto. Isso tem como objetivo implantar os projetos, com cronograma e responsabilidades bem definidas, possibilitando a mobilização dos atores envolvidos – sejam os governos estaduais e federal, bancadas estaduais e federais, organismos estaduais e federais, na iniciativa privada envolvida, organizações não-governamentais e universidades. No curto prazo, elegeu-se uma lista de 34 projetos, totalizando R$ 6,8 bilhões em investimentos, que passarão a ser foco da força-tarefa a ser criada nos próximos meses. (Assessoria Fieac)

 

IBGE: PIB acreano registra 7º maior crescimento do país Imprimir E-mail
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19-Nov-2010 Jornal Página 20
Contas Regionais confirmam a solidez da economia acreanaO Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na quarta-feira, 17, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados, tendo 2008 como ano de referência, confirmando a grande evolução econômica do Estado na última década. Com crescimento de 6,9% em termos reais – superior à média nacional de 5,2% -, o Acre registrou o segundo melhor desempenho da Região Norte e o sétimo do Brasil. Apresentando PIB de R$ 6,73 milhões (0,2% do PIB brasileiro) em 2008 contra R$ 5,76 milhões em 2007, o Estado encontra-se na 26ª posição no ranking em 2008. Na série 2002-2008, apresentou o quarto maior crescimento em volume (44,1%). “O Acre é pelo segundo ano consecutivo o sétimo do país”, confirmou Cláudia Saldanha, do Departamento de Estatística da Secretaria de Estado do Planejamento.

PRODUÇÃO de milho e mandioca impulsionou crescimento do PIB acreano
PRODUÇÃO de milho e mandioca impulsionou crescimento do PIB acreano

O PIB per capita acreano foi de R$ 9.896 em 2008 contra R$ 8.789 no ano anterior, mantendo o Estado na 17º posição do ranking nacional pelo segundo ano consecutivo. A maioria dos setores econômicos apresentou crescimento substancial do PIB no período: com taxa de crescimento do volume de 14,7%, a agropecuária foi responsável por 18,6% do valor adicionado do Estado em 2008. A atividade cultivo de outros produtos da lavoura temporária representa aproximadamente 50% do valor da produção agropecuária acreana, com destaque para o aumento da produção da mandioca, que cresceu 19%. Contribuíram ainda para o bom desempenho da agropecuária em 2008, o aumento da produção de milho (8%) e da atividade criação de aves (35%).

A indústria teve 12,4% de participação do valor adicionado do Estado em 2008, e seu crescimento em volume foi de 5,8%. A indústria acreana foi impulsionada pela construção civil que expandiu 6,9% e aumentou de 54% sua participação em 2007 para 60% em 2008 no valor total do setor. As outras atividades que colaboraram para o incremento foram a indústria de transformação com expansão de 4,8% e participação na indústria total de 27,3%; e, o crescimento obtido pelos serviços industriais de utilidade pública (4,3%).

PRODUÇÃO de milho e mandioca impulsionou crescimento do PIB acreano

 O setor de serviços cresceu 4,8% em 2008 em relação ao ano anterior. As atividades que mais impulsionaram o setor de serviços foram o comércio e serviços de manutenção e reparação que expandiu 8,1% e respondeu por 20,1% dos serviços; e a administração, saúde e educação públicas e seguridade social que cresceu 2,6% em 2008, com participação no valor adicionado do Estado de 33,4%.

No geral, Piauí foi o Estado que teve o maior crescimento real do PIB em 2008 (8,8%), embora tenha mantido uma participação relativamente baixa no PIB nacional (0,6%). O crescimento se deveu, em grande parte, aos resultados positivos da agricultura, cujo volume de 62,1% foi incrementado pela cultura de soja.

Norte vem ganhando posições e Acre segue avançando na região

Os dados apontados pelas Contas Regionais do Brasil 2004-2008, que revelaram, ainda, que a região Sudeste continua perdendo participação no PIB. A perda foi de 0,4%, um recuo em relação a 2007. Em seis anos, a queda foi de 0,7%. Já o Sul, apesar do decréscimo de 0,3% nos últimos seis anos, manteve a mesma participação em relação ao ano anterior, cerca de 16,6%. As demais regiões vêm ganhando participação desde 2002.

Apesar disso, a concentração ainda é forte no Brasil, já que, em 2008, oito Estados detinham quase 80% do PIB nacional. Naquele ano, a participação de São Paulo era da ordem de 33%, mas esta apresenta tendência de queda desde 1995, quando era de 37%. Mesmo assim, o estado registrou PIB recorde, ultrapassando pela primeira vez a marca de R$ 1 trilhão. Desde o início da série, os seis primeiros colocados no ranking não mudavam de posição. Porém, em 2008 Santa Catarina ultrapassou a Bahia, ficando com a sexta posição. As regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste vêm ganhando participação no PIB desde 2002. As duas primeiras avançaram, cada uma, 0,4% no período, enquanto a última cresceu 0,1%. Sul e Sudeste perderam 0,3% e 0,7% de participação, respectivamente. (Agência de Notícias do Acre)

 

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26 de dezembro de 2009

Falando sobre YouTube – Bengt Ake Lundvall

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 1:23 AM

Bengt-Åke Lundvall as EU ambassador for Creativity and Innovation

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 1:00 AM

Learning, Innovation and Competence Building Systems – by Bengt-Ake Lund…

Filed under: Ciências Econômicas — Porfiro @ 12:32 AM

28 de julho de 2009

COMISSÃO STIGLITZ-SEN-FITOUSSI – PIB

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 5:12 PM

 

Comissão sobre as medidas do desempenho econômico e progresso social
(Relatório provisório, em inglês) – Link http://www.stiglitz-sen-fitoussi.fr/documents/draft_summary.pdf
J. Stiglitz, A. Sen e J-P. Fitoussi / Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress  Junho 2009

Comentário por Ladislau Dowbor – 17/06/2009

O documento provisório elaborado pela Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress, sob a coordenação de J. Stiglitz, A. Sen e J-P Fitoussi, não renova o debate, limita-se essencialmente a sistematizar as principais metodologias existentes, com pouco a acrescentar em termos propositivos. No entanto, com o impacto que está tendo, traz à tona uma série de visões que há tempo vêm sendo apontadas por pesquisadores cansados das simplificações e êrros técnicos do PIB, e as coloca na mesa de discussões com grande visibilidade. Isto só já ajuda bastante.

As equipes trabalharam de maneira bastante clássica, dividindo as tarefas em torno de 1)avaliação dos processos econômicos; 2) metodologias na área social; 3) metodologias na área ambiental. O relatório, em consequência, está constituído em tres partes, com fragil articulação, coisa que deverá ser enfrentada nas conclusões, ainda ausentes neste relatório provisório. Qualidade importante, o relatório é perfeitamente legível por não especialistas, e afirma claramente que as contas nacionais e os indicadores correspondentes devem justamente ser compreensíveis para ter os impactos de reorientação de rumos que se deseja.

Em termos de enfrentamento das deficiências do próprio PIB, há cinco propostas: 1) resgatar dimensões das contas nacionais que representam melhor os interesses da sociedade, em particular a renda nacional disponível líquida (net national disposable income), o que desagregado para a perspectiva domiciliar permite avaliar melhor o impacto econômico para a sociedade; 2) trazer à tona setores produtivos hoje centrais como a educação e a saúde; 3) assegurar a centralidade da renda domiciliar de forma a dar visibilidade às condições de vida; 4) assegurar uma contabilidade que reflita efetivamente a distribuição, de forma a dar visibilidade à desigualdade de renda e riqueza; 5) resgatar as atividades que não pertencem à economia de mercado.(8)
Não tem o mínimo sentido fazer resumos aqui, apenas salientaremos alguns conceitos que vale a pena acompanhar:

• Há uma clara consciência da dimensão estrutural da revisão necessária nas nossas estatísticas: “O nosso aparelho estatístico, que talvez tenha nos servido num passado não muito distante, está carecendo de sérias revisões” (3)
• Não se pode reduzir tudo a um denominador comum monetário: precisamos sim da avaliação em dinheiro, mas combinada com outras unidades de medida. Resgata-se a importância da unidade de território (hectares) por exemplo para a pegada ecológica; da unidade de tempo (horas) por exemplo para lazer; das unidades físicas para um conjunto de fatores de difícil representação monetária. Reduzir os processos complexos modernos a uma unidade só, o dinheiro, e uma cifra só, o PIB, simplesmente não é sério.
• A educação e outras áreas sociais deixam de ser vistos como “consumo”, ou “gasto”, para serem classificadas como investimento no capital humano, ou como atividades produtivas “production activities”. (75) (8)
• Há uma forte guinada para valorizar o domicílio (household perspective) como unidade básica de avaliação, o que traz à tona tanto as questões sociais, como a dimensão de qualidade de vida dos problemas ambientais. (18)
• Há uma clara crítica das médias, evoluindo a contabilização formal da questão chave que é a desigualdade de renda e de riqueza. (27)
• Aponta-se para a provável necessidade de uma conta chave, e outras assessórias (core and satellite accounts).
• O tempo passa a ser visto como um valor importante (para as pessoas, e não só para as empresas), calculado a partir das horas de tempo livre das pessoas em idade ativa multiplicado pelo valor da hora de trabalho médio na economia. (We multiply the average leisure time per day by the working age population and by the average wage rate in the economy). (33, 48)
• O trabalho doméstico não remunerado passa a ser incluído, ainda que o relatório não apresente opções quanto à metodologia. O relatório apresenta sim avaliações existentes, que representaram por exemplo 35% do PIB na França, e 30% nos EUA. (32)
• A importância das conexões sociais (social connections), numa definição próxima da do capital social, traz à tona o fato que a riqueza do convívio é essencial para a nossa qualidade de vida. (51)
• Independentemente das propostas propriamente ligadas à sustentabilidade ambiental do ponto de vista da sobrevivência do planeta, há uma forte percepção da importância da qualidade do meio ambiente para a nossa própria qualidade de vida. (52, 53)
• Nas contas da sustentabilidade ambiental em geral, avalia-se metodologias diversificadas para a avaliação monetária (pricing)dos produtos retirados da natureza (natural assets), e para a avaliação monetária da degradação ambiental (poluição e semelhantes) (73, 77)
• Há uma clara tendência para a utilização de uma forma mais sofisticada da metodologia de poupança líquida ajustada (Adjusted Net Savings, ANS) desenvolvida pelo Banco Mundial, como forma de incluir nas contas o consumo de recursos naturais. (A exploração de petróleo, por exemplo, passa a ser vista como descapitalização de um país, a ser balanceada com eventuais investimentos que compensam a riqueza retirada). (76, 78)
• O conceito de estoque constante de riqueza (constant stock of wealth) é interessante, pois introduz o balanço entre a riqueza que temos hoje e a que entregaremos às futuras gerações.
• O conceito de pegada ecológica é apresentado como fundamental, com recomendações no sentido de se valorizar as pegadas específicas, como a pegada de carbono (carbon footprint)que permite avaliações mais precisas. (79). O relatório nos lembra o evidente: o planeta tem 12,2 bilhões de hectares de área útil, ou seja, 1,8 ha. por habitante. O europeu usa 4,9 há. por pessoa, o americano 10. Há pessoas claramente mais espaçosas que outras. (79)
• Enfim, o relatório traz dimensões “transversais”, que nos obrigam a pensar de forma integrada os diversos processos. É o caso da desigualdade de gênero e racial, dos impactos cumulativos em termos de exclusão (nascer pobre e sem acesso à educação), e das dimensões supranacionais que tornam comparações entre países frequentemente limitadas.

Salientamos aqui de maneira pouco sistemática alguns pontos que nos pareceram relevantes. É evidente que se trata de um processo lento, mas se olharmos para a última década, os avanços são muito significativos. Muitas organizações que vêm apontando os êrros de enfoque do PIB e avançaram com novas propostas, pesquisadores como Hazel Henderson nos Estados Unidos, Patrick Viveret e Jean Gadrey na França e tantos outros, reconhecerão alguns dos seus aportes, inclusive porque a discussão se tornou planetária.

Quem esperava muito mais da comissão poderá eventualmente ficar decepcionado.
Pessoalmente, acho um instrumento importante de trabalho. Como não acredito em milagres, um avanço modesto, mas na direção certa, me parece positivo. Fato não desprezível, a Comissão disponibilizou este documento preliminar, abrindo espaço para críticas e contribuições da comunidade em geral, que podem ser enviadas até 5 de julho. Endereço: http://www.stiglitz-sen-fitoussi.fr/en/index.htm

Sexta-Feira, 24 de Julho de 2009 | ESTADÃO

Sábios dizem como mudar nosso olhar

Washington Novaes

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Há poucas semanas (3/7) foi mencionado aqui o relatório produzido pela chamada Comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi, liderada pelos Prêmios Nobel Joseph Stiglitz e Amartya Sen e encarregada pelo presidente da França de definir novos caminhos para avaliar a situação do mundo que superem as limitações dos indicadores apenas econômicos e financeiros – cuja precariedade ficou evidenciada na não-previsão da atual crise global. Seria importante que muitas pessoas tomassem conhecimento dessa primeira versão já trabalhada durante mais de um ano e a discutissem, já que os autores pedem "contribuições da sociedade".

O texto começa pela afirmação de que "há grande distância" entre as medidas comumente usadas por especialistas para avaliar importantes variáveis socioeconômicas (como crescimento, inflação, desigualdades sociais, etc.) e a percepção que delas tem a sociedade. O "gap" é tão profundo e universal, diz a comissão, que não pode ser explicado apenas por ilusões monetárias ou pela psicologia humana. Por isso, enfatiza, "o aparato estatístico precisa ser revisto". A começar pela tendência de avaliar o progresso apenas pelo crescimento do produto interno bruto (PIB) – e aí é preciso ver quais são as limitações desse caminho para calcular o desempenho econômico e o progresso social. Em seu trabalho, a comissão tentou listar que informações adicionais precisam ser acrescentadas, de modo a poder apreciar igualmente o bem-estar social e a sustentabilidade (econômica, social, ambiental).

Tentar medir tudo isso com apenas um indicador, um número, é inadequado, diz. Adicionar muitos números pode simplesmente gerar confusão. Por isso a comissão escolheu três caminhos:

Avaliar as limitações do PIB como indicador de progresso socioeconômico;

incluir formatos de avaliação da qualidade de vida;

adicionar formatos de avaliação da sustentabilidade do desenvolvimento e do meio ambiente.

O problema com o PIB, afirma a comissão, começa em que ele só mede a produção em valores de mercado, mas é comumente encarado como se fosse medida de bem-estar econômico. É um critério que não leva em conta o fato de não existirem preços para certos bens e serviços, como a qualidade dos serviços de saúde e educação, o trabalho doméstico ou em lares que cuidam de crianças e muitos outros. Mas como avaliá-los? O PIB é também um indicador que não considera danos ambientais na produção ou no consumo que não estejam embutidos nos preços de mercado (neste ponto, é inevitável lembrar mais uma vez o falecido secretário nacional do Meio Ambiente José Lutzenberger, segundo quem não há nada melhor para o crescimento do PIB que um terremoto, porque os prejuízos não entram na conta, enquanto as obras de reconstrução o fazem subir). Além disso, há certas mudanças de qualidade muito rápidas – como nas áreas de comunicação e informação, entre outras – que são difíceis de medir e deixam de ser incorporadas. Isso ocorre também com transações por via eletrônica. O resultado final é que o PIB pode superestimar ou subestimar muitas coisas.

Cinco caminhos foram então escolhidos nessa tentativa de lidar com as deficiências do PIB:

Considerar nas contas nacionais outros indicadores além do PIB;

avaliar melhor o desempenho de atividades-chave hoje esquecidas, principalmente serviços de educação e saúde;

incorporar nos cálculos atividades domésticas e até valorar o padrão de vida;

levar em consideração informações sobre distribuição da riqueza e da renda;

e ampliar a avaliação de atividades fora do mercado que hoje não se refletem nas contas nacionais.

Um dos exemplos mencionados com mais ênfase é o dos serviços domésticos, que, para a comissão, podem equivaler a 30% do PIB. Atividades de lazer podem valer mais ainda. E seria preciso também levar em conta diferenças hoje esquecidas, como as que separam duas pessoas com a mesma renda – por exemplo, morar em casa própria ou em residência alugada. Ou a depreciação rápida de bens de vida curta, como computadores e softwares, que não podem ser avaliados pelos mesmos critérios de uma usina de fabricação de aço, por exemplo, em geral de vida longa.

Mais grave e complicado ainda é não levar em conta, hoje, a depleção de recursos naturais já escassos, assim como a deterioração do meio ambiente. São ângulos decisivos na grave crise ambiental enfrentada pelo planeta, mas que não se refletem nas contas do PIB. Como lembra essa comissão, há até lobbies em plena ação para impedir que essas contas sejam feitas, dada a repercussão que terão em certos setores de atividades econômicas.

Outro aspecto: as atuais contas, por exemplo, não consideram no PIB remessas de lucros para fora dos países onde foram gerados, que têm forte influência tanto nas contas nacionais como no cálculo da renda total e pessoal. É citado o caso da Irlanda, onde a contabilização desse tipo de remessa reduziria o PIB em 10%. Mais um aspecto: capital humano, que pode significar 80% de toda a riqueza, também não entra nas contas do PIB.

Um dos ângulos mais complexos está nos campos da educação e da saúde, na valoração de seus benefícios. Um exemplo dado é a avaliação de recursos aplicados pelos governos em educação: deve-se julgar apenas pelo montante de dinheiro ou pelas transformações resultantes? Como deve ser calculado o investimento por aluno se se decide ter menos alunos por classe e dar-lhes mais qualidade e tempo de ensino?

São muitos os ângulos e questões. Vale a pena conhecê-los, acompanhar as discussões, delas participar. Afinal, de encaminhamentos como esse depende a evolução dos nossos modos de avaliar governos e sociedades, encontrar rumos mais adequados para sair da atual crise e assim seguir vida afora.

Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

 

JC e-mail 3799, de 07 de Julho de 2009.
 
12. Onde há fumaça há fogo, artigo de José Eli da Veiga
 
“Embora suas mensagens não cheguem a ser convergentes, esse par de relatórios ilumina alguns dos mais sérios problemas da ciência econômica”

José Eli da Veiga é professor titular da Faculdade de Economia (FEA) e orientador do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo. Artigo publicado no “Valor Econômico”:

Como monitorar o Desenvolvimeto Sustentável – J. E. Veiga – resposta a Comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi – jun2009

De onde vem a força do PIB Data: 02/09/2008
José Eli da Veiga

 

http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=721

 

http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2009:100:0053:0059:PT:PDF

 

 

O reequilíbrio do mundo 

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26 de maio de 2009

SOJA x SÉCULO XXI

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 7:12 AM
DE ALIMENTO ATÉ BASE PARA TINTAS, COSMÉTICOS E BIODIESEL, GRÃO ALAVANCOU ECONOMIAS COMO BRASIL E ARGENTINA, MAS INFLACIONOU CULTURAS DE SUBSISTÊNCIA E AMEAÇA O CERRADO E A AMAZÔNIA, DIZ ORGANIZADORA DE "O MUNDO DA SOJA"


Alguns desinformados fazem a relação entre a expansão da soja e o desflorestamento


Moacyr Lopes Junior – 13.mai.09/Folha Imagem
Funcionário de empresa de carga acompanha o armazenamento de soja no porto de Santos, em SP

EUCLIDES SANTOS MENDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Produto em franca expansão no mercado internacional, a soja é hoje uma das principais commodities brasileiras (o país é o segundo produtor mundial), cultivada do Rio Grande do Sul ao Norte-Nordeste do Brasil. Além do uso na alimentação do ser humano, é utilizada também no fabrico de ração para animais, tintas e biodiesel, entre outras aplicações.
A função estratégica desse grão vital em vários áreas é tema de "The World of Soy" (O Mundo da Soja, University of Illinois Press, 337 págs., US$ 40, R$ 83), lançado nos EUA e no Reino Unido.
Uma das organizadoras do livro (com Chee-Beng Tan e Sidney Mintz), a antropóloga norte-americana Christine Du Bois ressalta o papel da soja na modernização da agricultura, no mercado de commodities, na indústria e na transformação de produtos alimentares. Mas não esquece da ameaça ambiental que representa a expansão do cultivo da soja. "É preocupante", diz Du Bois, que também é pesquisadora vinculada à Universidade Johns Hopkins, nos EUA.
Já Ivan Sergio Freire de Sousa, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e coautor de dois artigos publicados no livro, considera que, no caso brasileiro, o produto "não pede mais expansão de áreas", mas "demanda tecnologias cada vez mais eficientes".
Na entrevista abaixo, discutem também os impactos econômicos e a relevância do grão como commodity: sozinhos, Brasil, EUA e Argentina respondem por 81% da produção.
 

FOLHA – Como a soja se tornou um dos sustentáculos do processo de modernização da agricultura?
IVAN SERGIO FREIRE DE SOUSA
– Há cerca de 40 anos a produção de soja no Brasil era inexpressiva.
As variedades que utilizávamos vinham do sul dos EUA, algumas outras eram desenvolvidas pelos nossos institutos de pesquisa, como o Instituto Agronômico de Campinas (SP).
Quando se falava em soja no Brasil, a lembrança que vinha à mente era a região Sul, Rio Grande do Sul principalmente, onde existia a famosa dobradinha trigo/soja, sendo o trigo, na época, o principal produto.
Isso mudou, e por vários fatores. A partir dos anos 1980, os pesquisadores conseguiram desenvolver variedades de soja cada vez menos dependentes da latitude, tornando possível a produção em todo o país.
Juntando tudo isso com o dinamismo do agricultor brasileiro e o forte apoio governamental nas áreas de financiamento e infraestrutura, houve a modernização do setor.
CHRISTINE DU BOIS – Nos EUA, pesquisas com apoio do governo realizadas na metade do século 20 mostraram muitos caminhos em que a soja poderia ser usada de modo rentável.
Eles vão desde aplicações industriais (por exemplo, no fabrico de tintas), na produção animal (especialmente para a alimentação de porcos e galinhas) e na alimentação humana (sobretudo o óleo utilizado em muitos alimentos processados em todo o mundo).
Esses variados usos da soja, juntamente com várias políticas privadas e governamentais de sustentação de preços, incentivaram fazendeiros do Meio-Oeste dos EUA a cultivá-la em grande escala.
Muita modernização na agricultura, mercado de commodity, indústria e a transformação de produtos alimentares alinharam-se a essa agricultura, embora a colheita da soja não seja a única a ter semelhante impacto.

FOLHA – A soja teve, então, papel decisivo na modernização da agricultura brasileira?
SOUSA
– A agricultura moderna é, em grande medida, um empreendimento científico envolvendo sociedade, ciência, tecnologia e natureza. Não foi só a soja que se modernizou no Brasil, outros cultivos também passaram por esse processo.
Mas, no caso da soja, os agricultores foram aos centros de pesquisa solicitar tecnologias e houve resposta rápida para essa demanda.
DU BOIS – O que podemos chamar de "complexo industrial da soja" exige equipamento agrícola pesado, fertilizantes, inseticidas, sementes, unidades de armazenamento dos grãos, transporte por barco, trens, caminhões.
Além disso, são necessárias facilidades para pesquisas agrícolas, operações bancárias, especialistas em comercialização, advogados, migração da força de trabalho e o desenvolvimento das cidades para abrigar, alimentar e cuidar dos trabalhadores e suas famílias.
O cultivo de soja em grande escala traz, assim, múltiplos níveis de modernização e desenvolvimento em seu rastro, onde quer que aconteça, incluindo o Brasil.

FOLHA – A soja terá a importância que o trigo já representou para a humanidade?
DU BOIS
– A soja talvez já seja o "novo trigo". Pelo volume, é a colheita mais internacionalmente comercializada.
Como populações em países em via de desenvolvimento começam a comer mais carne (especialmente os chineses), a demanda para a soja como ração animal continuará a crescer firmemente.

FOLHA – Como se configura o mapa da produção mundial de soja hoje?
SOUSA
– Originária de regiões de altas latitudes, a soja pode hoje ser produzida em quase todas as partes do mundo.
Sua produção, porém, está concentrada em alguns poucos países, como EUA, Brasil, Argentina e China, principalmente. A soja produzida na China é para consumo interno, mas devido a sua grande população, é um país importador.
É a produção desses países que dita os preços internacionais da soja. DU BOIS – Os EUA são ainda o maior país produtor de soja, mas o Brasil e a Argentina não ficam para trás.

FOLHA – E quanto ao mapa brasileiro da produção de soja?
SOUSA
– O Centro-Oeste é a grande região produtora, mas a soja é plantada do Rio Grande do Sul ao Norte do país.
Há municípios baianos [na região de Barreiras, no oeste do Estado] especializados na produção de soja.
Utilizando-se de critérios como período de plantio, área plantada e uso intenso de tecnologia, sua produção no Brasil pode ser dividida em três regiões distintas: a tradicional, a de expansão e a potencial.
A região tradicional corresponde aos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, onde a introdução da soja foi baseada na tecnologia importada do sul dos EUA, com suprimentos locais que cresceram durante o tempo. A situação atual é completamente diferente, com oferta de tecnologia competitiva originada localmente.
A região de expansão é formada pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão, oeste de Minas Gerais e Bahia.
Em contraste com a região tradicional, o solo típico da região de expansão é o do cerrado. Essa expansão somente se tornou possível quando a pesquisa agropecuária nacional fez importantes conquistas, incluindo a criação de variedades menos suscetíveis aos problemas das baixas latitudes e o desenvolvimento de novas técnicas de fertilidade de solo. A região potencial inclui o restante do país. Germoplasmas [material genético contido na semente] adaptados a todas as latitudes encontradas no Brasil tornaram possível a produção de soja em qualquer parte do território nacional.

FOLHA – Qual o impacto da soja no desenvolvimento do agronegócio e na abertura e ocupação de novas fronteiras agrícolas no Brasil?
SOUSA
– Esse impacto tem sido grande. A cadeia produtiva da soja cresceu bastante, principalmente quando comparamos com os anos 1970, época do início da expansão. Hoje se pensa mais em produtividade, e o papel da tecnologia é fundamental. Essa fronteira agrícola chegou ao seu limite.

FOLHA – Quais as principais consequências, do ponto de vista econômico e ambiental, do modelo agroindustrial de produção de soja no país? A expansão das regiões produtoras representa uma ameaça ambiental para a Amazônia?
SOUSA
– Alguns desinformados costumam fazer a relação entre a expansão da soja e o desflorestamento. Mas o que ocorre é o aproveitamento parcial das áreas desmatadas, integrando-as ao processo produtivo.
O economista e engenheiro agrônomo Alfredo Kingo Homma, um estudioso da área, costuma lembrar que, num período de 30 anos, a safra de grãos do Brasil quadruplicou, mas a área plantada nem sequer dobrou de tamanho. A pesquisa agropecuária tem oferecido resultados tecnológicos significativos, do ponto de vista ambiental, em várias áreas, como é o caso do controle biológico de pragas. Com isso se tem evitado ou diminuído o uso intensivo de pesticidas.
Não conheço casos em que sojicultores estejam clamando por desmatamento. Isso não existe.
DU BOIS – Economicamente, o agronegócio da soja no Brasil é sem dúvida rentável, embora a riqueza seja distribuída de maneira desigual.
Além disso, em algumas regiões como o Nordeste, a conversão da terra para o consumo de alimento local em terra para a produção de soja para exportação tem feito com que os preços dos alimentos locais aumentem. E, com isso, os pobres são atingidos.
Do ponto de vista ambiental, a conversão do cerrado -uma savana com biodiversidade extremamente rica- numa terra para a monocultura agrícola da soja é preocupante.
A região da Amazônia está também ameaçada, porque mesmo que se diga aos fazendeiros que eles não devem desmatar, a menos que sigam regras estabelecidas, o desmatamento continuará. A Amazônia precisa, de fato, da aplicação de regras. O cerrado precisa de áreas extensas preservadas. Esses recursos naturais selvagens são o patrimônio do Brasil, com grande valor para as futuras gerações -e devem ser protegidos.

FOLHA – A soja é, hoje, uma das principais commodities brasileiras. Qual o futuro do país como um "commodity country"?
SOUSA
– O Brasil precisa ser mais do que um "commodity country", embora suas commodities agrícolas venham trazendo garantia de empregos no campo e nas pequenas cidades, além de gerarem divisas.

FOLHA – Na América Latina, a soja é predominantemente usada como um componente básico da nutrição animal. No Brasil, qual o papel da soja e dos seus derivados (como o óleo) na economia alimentar?
SOUSA
– Em todo o mundo, a soja é predominantemente utilizada como ração animal. No Brasil deu-se um caso interessante. O óleo foi um derivado de muita importância.
Antes da soja, os óleos alimentícios disponíveis no mercado eram os de amendoim, algodão e milho, principalmente. O óleo vegetal era caro e difícil. Consumia-se muito a gordura animal, vendida em latas.
O óleo de soja foi o óleo vegetal que modificou drasticamente esse quadro. Os demais apenas complementaram o que a soja realmente fez.



Folha Online
Leia trecho do capítulo "Grãos de Soja e Comidas de Soja no Brasil", de Ivan Sergio Freire de Sousa e Rita de Cássia M.T. Vieira, que faz parte do livro "O Mundo da Soja", em
www.folha.com.br/0913410

 
Vale por um bifinho

PESQUISADORA DA EMBRAPA DIZ QUE COMMODITY SERÁ A MATÉRIA-PRIMA DOS PRÓXIMOS SÉCULOS


Hoje, quase todas as grandes indústrias de alimento têm uma linha à base de soja


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Produto que compõe a dieta alimentar do brasileiro, a soja possui, segundo a pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Embrapa Mercedes Carrão Panizzi, características que a fazem benéfica para o consumo humano: é fonte de proteínas, minerais e compostos bioativos.
Em entrevista à Folha, diz também que alguns trabalhos de pesquisa "têm mostrado que a soja pode atuar na redução do colesterol".
Panizzi ressalta ainda que a soja geneticamente modificada não apresenta desvantagens.
"A obtenção de melhores variedades favorecem produtores pela redução no uso de insumos e pelo aumento de rendimento. Os consumidores são favorecidos pela melhor qualidade dos produtos."
Na entrevista abaixo, ela diz que o consumo de alimentos à base de soja tem crescido nos EUA e na Europa, apesar de o grande negócio envolvendo esse grão no Brasil e no mundo ainda ser o do fornecimento de matéria-prima para a composição de ração animal.
A soja também é usada em produtos como o biodiesel, lubrificantes, tintas, plásticos e cosméticos. Por isso, argumenta, "podemos afirmar que a soja pode ser a matéria-prima dos próximos séculos".
 

FOLHA – A soja será o "novo trigo", pela sua potencial importância na cadeia alimentar?
MERCEDES CARRÃO PANIZZI
– Prefiro dizer que não será o trigo, porque também precisamos do trigo, e sabemos que da combinação de leguminosas (soja) e cereais (trigo) temos a oferta de proteínas de alta qualidade, semelhante às proteínas de origem animal.
Entretanto, podemos afirmar que a soja poderá ser a matéria-prima dos próximos séculos.
Pois é uma das únicas plantas produzidas em larga escala que podem fornecer matéria-prima para a produção de alimentos e também pode ser utilizada em produtos industriais não-alimentares, tais como lubrificantes, tintas, plásticos e cosméticos, além de também poder ser fonte de energia (biodiesel).

FOLHA – Quais as consequências da soja geneticamente modificada para produtores e consumidores?
PANIZZI
– Sempre que se faz melhoramento genético por meio de métodos tradicionais ou por meio da biotecnologia, o objetivo é aperfeiçoar o desempenho da planta para o aumento de rendimento e adaptação. Isso pode ser conseguido pela melhora de características da planta ou pela tolerância a diferentes "estresses" (bióticos e abióticos).
Vários componentes de qualidade podem ser modificados por melhoramento genético clássico ou por biotecnologia. A obtenção de melhores variedades favorecem produtores pela redução no uso de insumos e pelo aumento de rendimento.
Os consumidores são favorecidos pela melhor qualidade dos produtos.
Na minha opinião, não há desvantagens, porque todo o trabalho é conduzido para a obtenção de melhores variedades -as quais só são lançadas após extensivas avaliações, que são ainda mais rigorosas para a soja geneticamente modificada.

FOLHA – Qual o papel da soja na economia alimentar no Brasil?
PANIZZI
– O grande negócio da soja no Brasil e no mundo ainda é ser matéria-prima para a composição de ração animal.
Entretanto, o uso da soja e de seus derivados devem agregar valor nutricional nos alimentos, como também, dependendo dos custos de processamento, podem, em alguns casos, fornecer alimentos mais econômicos para a população.

FOLHA – Quais as vantagens da utilização da soja como alimento?
PANIZZI
– A soja é fonte de proteínas de excelente qualidade (boa composição de aminoácidos), além de ser fonte de minerais e de compostos bioativos, tais como isoflavonas e saponinas, entre outros, que são benéficos para a saúde humana. Tecnologias de processamento adequadas transformam a soja em produtos com qualidade e boa aceitabilidade pelos consumidores, como no caso das bebidas à base de extrato de soja.
Alguns trabalhos mostram que a soja pode atuar na redução do colesterol.
É, portanto, um alimento disponível no Brasil, que é o segundo produtor mundial, e deveria ser mais consumido pela população.

FOLHA – O que falar do uso da soja na culinária de países como China, Japão e Coreia do Sul?
PANIZZI
– A soja é uma leguminosa utilizada há milênios no Oriente como constituinte de diferentes pratos da culinária daqueles países.
Entre esses pratos tradicionais, tem-se os fermentados, como shoyu, miso e natto, por exemplo.
Todos esses pratos demandam variedades de soja com características específicas. O processo de fermentação também agrega alguns aspectos nutricionais importantes, como biodisponibilidade de alguns minerais, de vitaminas e de compostos bioativos.

FOLHA – Qual a relevância e a taxa de consumo de alimentos feitos à base de soja nos EUA e na Europa?
PANIZZI
– Observa-se um crescimento muito significativo no consumo de alimentos à base de soja nos EUA e em países europeus, algo que também vem acontecendo no Brasil. O de bebidas à base de extrato de soja, por exemplo, cresce cerca de 25% ao ano. Esse crescimento se deve ao processamento tecnológico adequado, o qual permite a obtenção de produtos de excelente qualidade.
Atualmente, quase todas as grandes indústrias de alimento têm uma linha à base de soja. Também se observa uma constante disponibilidade de novos produtos alimentares à base de soja no mercado.



Folha Online
Conheça receita de hambúrguer de soja da chef Rita Taraborelli feita para o restaurante Maní, de São Paulo, em www.folha.com.br/091349

25 de maio de 2009

BOLONHA II x EDUCAÇÃO SUPERIOR

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 10:13 PM
 

Ensino Superior
Conselhos de pesquisa divulgam plano para cortar R$ 342 milhões; entre “ações”, comunicado fala em reformular “áreas de pesquisa”

Os conselhos de pesquisa do Reino Unido, principais órgãos públicos britânicos para financiamento a ciência e tecnologia, anunciaram oficialmente no dia 18 de maio as cinco áreas de pesquisa “dentro dos programas multidisciplinares” dos conselhos em que serão investidos 106 milhões de libras (cerca de R$ 342 milhões). O comunicado lista as áreas: economia verde, setor de ciências da vida (incluindo saúde e alimentos), economia digital, serviços e manufaturas de alto valor agregado, indústria cultural e criativa. O texto informa que os recursos vieram de cortes na área administrativa e também de mudanças na direção do investimento: para economizar e aumentar a eficiência, os conselhos vão “aumentar o cofinanciamento nos portfolios de pesquisa e redefinir as áreas prioritárias existentes”. 

A lista faz parte da implementação do plano de cortes; e o anúncio é mais um lance no debate que Ensino Superior relatou em reportagem publicada dia 30 de março. Os conselhos, subordinados ao Departamento de Inovação, Universidades e Especializações (DIUS, na sigla em inglês), vêm formalmente buscando engajar a produção científica a objetivos mais diretamente econômicos. Os resumos de impacto são um passo nessa direção. Em resposta a eles, um grupo de 20 cientistas britânicos endereçou uma carta aos organismos, publicada na revista Times Higher Education, a THE. A carta enfatiza que “prioridades” geralmente excluem projetos de pesquisa batizados de “blue-skies” (céus azuis).

Por isso, o comunicado do dia 18 explicita em seu terceiro parágrafo que permanece “inteiramente comprometido” com o financiamento a pesquisas blue-skies — uma resposta a esse argumento. Também explicita — no segundo parágrafo — a expectativa dos conselhos: que os resultados da pesquisa concentrada nas cinco áreas listadas gerem “crescimento econômico e melhorem a saúde e o bem-estar no Reino Unido”. No pé do comunicado, o texto remete as medidas ao documento “Research for Our Future” (veja aqui o site sobre o documento).

A reação dos cientistas

A lista de cinco áreas não é nova: logo depois da apresentação do orçamento do Reino Unido para 2009, feita no dia 22 de abril, vários grupos de cientistas criticaram a decisão do governo britânico de retirar recursos dos conselhos para realizar investimentos nas áreas prioritárias. As críticas não foram direcionadas à realização dos investimentos, mas à possibilidade de que o dinheiro saísse do financiamento às pesquisas blue-skies.

“Apesar de o orçamento fornecer apoio adicional para áreas tecnológicas fundamentais, o Tesouro enfraqueceu o potencial inovador do Reino Unido no futuro ao interferir na verba para ciência”, declarou Nick Dusic, presidente do grupo Campaing for Science and Engineering (CaSE), no próprio dia 22 de abril. Dusic também acusou o governo britânico de ter enfraquecido a independência dos conselhos. “É necessária uma revisão urgente dessa decisão, uma vez que ela destrói completamente a ideia de que os conselhos operam à distância do governo. Em vez de impulsionar o investimento na base de pesquisa, como nossos competidores internacionais, o governo moveu dinheiro para outro lugar”, criticou.

“Como o governo pode dizer que está mantendo o apoio às pesquisas blue-skies quando cada requerente é obrigado a preencher uma ‘declaração de impacto’ sobre os benefícios que sua pesquisa trará antes mesmo de o pedido de financiamento ser considerado?”, questionou o físico Donald Braben, fervoroso defensor da “liberdade para pesquisar”, em mais um e-mail enviado à redação de Inovação. O físico de partículas Braben foi o principal autor da carta à revista THE. Na opinião dele, a exigência de que os conselhos economizem 106 milhões de libras é “absurda”. “‘Economia por meio de eficiência’ é discurso burocrático para cortes”, acrescentou, citando a expressão utilizada pelo governo no texto do orçamento para 2009.

Vitória da resistência?

No começo de maio, o Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC, na sigla em inglês) preferiu adiar para abril de 2010 a implementação de outra medida impopular: a de proibir que pesquisadores com sucessivos pedidos de financiamento rejeitados no currículo fizessem novas solicitações ao órgão durante o período de um ano. O EPSRC pretendia que a vigência da medida começasse em 1º de junho deste ano. A revista Nature, na edição de 7 de maio, informou que a nova política afetaria 229 pesquisadores. Agora, disse a revista inglesa, esses pesquisadores terão mais tempo para “mudar seu comportamento” a fim de não se enquadrar nos critérios de fracasso repetitivo. Quem não conseguir terá uma punição mais branda: ao invés de ser excluído automaticamente do sistema de financiamento por um ano, o pesquisador ficará limitado a pedir recursos para apenas um projeto durante esse mesmo período.

  

Ensino Superior
Conferência ministerial registra os avanços para criação da Zona Europeia de Ensino Superior; acordo já inclui 46 países

Rachel Bueno

As cidades belgas de Leuven e Louvain-la-Neuve sediaram na última semana de abril a quinta conferência ministerial europeia sobre o andamento do Processo de Bolonha. A conferência foi marcada pela comemoração do décimo aniversário da Declaração de Bolonha, em que governos de 26 países se comprometeram com a meta de implantação, em 2010, da Zona Europeia de Educação Superior. No comunicado divulgado ao final da conferência, que resume a discussão dos últimos dois anos, a meta foi mantida.

Para a implantação da Zona Europeia de Educação Superior, os países do Processo de Bolonha — hoje são 46 — precisam organizar-se internamente de modo a tornar intercomunicáveis seus sistemas de ensino superior. A uniformização dos níveis — graduação em três anos, mestrado em dois e doutorado em até quatro — e a atribuição equivalente de créditos a disciplinas são duas das medidas mais conhecidas, que pretendem garantir mobilidade aos estudantes. 

Na manhã do dia 28 de abril, o primeiro da conferência, houve a apresentação de seis estudos de avaliação do processo. No dia 29, Inovação acompanhou pela Internet a última atividade do encontro: um fórum aberto a representantes de países não europeus, como Brasil, China e Estados Unidos. Terminado o fórum, foi lido o comunicado da conferência. Todas as cinco reuniões realizadas até agora terminaram com a elaboração de comunicados, que apontam os avanços e problemas do processo.

Os documentos da reunião

Dois seis estudos apresentados na conferência, três tratam do Processo de Bolonha como um todo, dois concentram-se em objetivos específicos do processo (um deles, na dimensão social e na mobilidade; o outro, na educação continuada) e um mostra como os estudantes estão vendo a criação da Zona Europeia de Educação Superior.

Objetivos do processo

O mais importante dos estudos é o “Bologna Process Stocktaking Report 2009“, que analisa o cumprimento dos objetivos do processo. Segundo seus autores, a análise feita para a conferência deste ano é mais rigorosa do que as feitas para as reuniões de 2005 (em Bergen, na Noruega) e de 2007 (em Londres, na Inglaterra).

A adoção do sistema de formação em três ciclos (bacharelado, mestrado e doutorado) por todos os países da Zona Europeia de Educação Superior é o primeiro objetivo analisado no relatório. De acordo com o documento, a implementação dos dois primeiros ciclos “parece ser apenas uma questão de tempo” e, no geral, a do terceiro também está progredindo. Os autores observam, no entanto, que alguns países ainda não entenderam completamente a necessidade de incluir no doutorado habilidades que sejam úteis para a futura vida profissional do estudante, seja ela dentro ou fora da academia. Quanto ao acesso dos graduados em um ciclo ao ciclo seguinte, foi constatado que vários países ainda exigem outras coisas além do diploma do ciclo anterior, como desempenho em exames e experiência profissional.

Em relação à implantação de estruturas nacionais de qualificações de nível superior, o relatório é mais pessimista: como vários países estão começando ou ainda nem começaram a fazê-la no nível institucional, não será possível concluí-la até 2010 em toda a Zona Europeia de Educação Superior. Outro objetivo que progrediu pouco, de acordo com o documento, foi a criação de meios para facilitar a educação continuada. Os autores descobriram que em muitos países ainda é difícil obter o reconhecimento de estudos feitos fora do sistema educacional convencional. Além disso, são poucos os que estabeleceram elos entre sua estrutura de qualificações e formas flexibilizadas de ensino, ou que mantêm dados estatísticos referentes ao aumento da participação de populações minoritárias em cursos superiores flexíveis.

Sobre a garantia da qualidade do ensino, o relatório diz que todos os países da Zona Europeia de Educação Superior já introduziram sistemas externos de avaliação; e que as instituições da maior parte deles também já adotaram procedimentos internos, embora alguns desses procedimentos sejam muito mais fortes do que outros. No entanto, o reconhecimento dos estudos realizados em instituições de diferentes países do bloco ainda precisa avançar. Segundo o relatório, o Suplemento ao Diploma, documento bilíngue contendo a descrição do sistema de ensino superior do país de origem do diploma, as características da instituição que o emitiu e informações sobre a formação realizada, por enquanto só é fornecido automática e gratuitamente em cerca de metade dos países do bloco. Também pesa o fato de nem todos terem terminado de instituir o Sistema Europeu de Acumulação e Transferência de Créditos, instrumento criado para estimular a mobilidade estudantil.

A mobilidade não só de estudantes, mas também de pesquisadores e funcionários de instituições de educação superior, é um dos principais objetivos do Processo de Bolonha; porém, segundo o relatório, os dados disponíveis sobre o fluxo de pessoas dentro da Zona Europeia de Educação Superior ainda são insuficientes. Da mesma forma, os autores encontraram pouca informação estatística sobre a dimensão social do processo — ou seja, sobre o aumento da participação de pessoas pertencentes a grupos minoritários no sistema oficial de educação superior. O documento diz que ainda vai levar tempo para que o corpo estudantil reflita a diversidade da população europeia, e observa que as abordagens nacionais visando à inclusão social ainda não estão perfeitamente integradas a outros aspectos do processo.

A respeito da cooperação entre instituições de ensino, o relatório informa que três quartos dos países do bloco já alteraram suas legislações para permitir a concessão de diplomas conjuntos. O documento também diz que o Processo de Bolonha fez crescer a cooperação entre países, organizações e instituições dentro e fora da Europa. Mas faz uma ressalva: “Enquanto muitos países relatam que promovem seus próprios sistemas de educação superior internacionalmente, muito poucos parecem focar na promoção da Zona Europeia de Educação Superior”.

Ponto de vista estudantil

O documento que relata o ponto de vista dos estudantes foi muito discutido durante a conferência e trechos dele foram incorporados ao comunicado final durante as discussões. O destaque do “Bologna with Students Eyes 2009” é a afirmação de que o relatório é quase uma cópia do que foi produzido em 2007 para a conferência de Londres. Segundo a União Europeia dos Estudantes (ESU, na sigla em inglês), responsável pela preparação de ambos os documentos, os países que comporão a futura Zona Europeia de Educação Superior continuam olhando para as linhas de ação do Processo de Bolonha como se elas estivessem em um “cardápio ‘à la carte‘”: selecionando as de seu interesse e simplesmente ignorando o restante. A mais comumente negligenciada, apontam os autores, é a que trata da dimensão social — o único elemento que, na visão deles, impede todo o processo de ser visto “como pouco mais que um esqueleto vazio de reformas estruturais”.

A lista com os objetivos que os estudantes consideram ter evoluído pouco de 2007 para 2009 é extensa: dimensão social, participação estudantil no processo, mobilidade, educação continuada, estruturas de qualificações e, diferentemente do que constatou o “Bolonga Process Stocktaking Report 2009“, implantação do sistema de formação em três ciclos. Sobre a dimensão social, a ESU informa que os estudantes continuam a relatar “ampla descriminação” em relação àqueles que pertencem a classes socioeconômicas inferiores, são deficientes físicos, têm filhos ou já estão empregados; sobre a mobilidade, a entidade observa que a falta de uma meta e de uma estratégia comuns para toda a Zona Europeia de Educação Superior está levando os países a adotar abordagens diferentes da questão. Já a implantação do sistema de formação em três ciclos é apontada como a área em que o processo teve “a mais notável perda de força” desde 2007: “apenas 61% das uniões [de estudantes] informaram que seus países têm o sistema de três ciclos completamente estabelecido, um aumento de apenas 5% em comparação com dois anos atrás”.

Mas o relatório da ESU não é totalmente pessimista: “no meio dos sentimentos de desânimo, há alguns feixes de luz encorajadores que mantêm a promessa de coisas melhores por vir”, diz a entidade em um trecho do Sumário Executivo. De acordo com o documento, houve avanços no estabelecimento do Sistema Europeu de Acumulação e Transferência de Créditos, na adoção de estratégias para garantir a qualidade do ensino e na participação dos estudantes nessas estratégias. “Na verdade, o cenário não é de total estagnação, mas de progresso irregular em algumas áreas e não em outras, e de um ritmo de mudança que é muito mais lento do que pretendiam os compromissos políticos declarados.”

Fórum

No dia 29 de abril, Inovação acompanhou pela Internet o Bologna Policy Forum, que prometia discutir as políticas do Processo de Bolonha, mas acabou tendo seu tempo quase inteiramente ocupado pelos comentários dos representantes dos 15 países convidados: Austrália, Brasil, Canadá, Cazaquistão, China, Egito, Estados Unidos, Etiópia, Israel, Japão, Marrocos, México, Nova Zelândia, Quirguistão e Tunísia. Cada representante teve cinco minutos para falar. A maioria deles chamou a atenção para a importância da mobilidade de estudantes e professores e da garantia da qualidade do ensino, e disse esperar o aumento da cooperação entre as instituições de educação superior de seus países e as europeias.

Em sua fala, a representante do Brasil afirmou que a avaliação da qualidade do ensino é algo que os brasileiros deveriam aprender com o Processo de Bolonha. Já a do Canadá disse que o processo pode mostrar para seu país como trabalhar em conjunto. Segundo ela, o fato de o Canadá ter diferentes jurisdições dificulta o estabelecimento de acordos no nível federal. Outro que mencionou a possibilidade de aprendizado com a iniciativa europeia foi o representante da Etiópia, país que ainda está construindo seu sistema de educação superior. “Quando 46 países estão envolvidos em um processo como este, há muito que aprender”, apontou.

Os representantes da China e de Israel destacaram a participação de seus países no Erasmus Mundus, programa da Comissão Europeia que promove a cooperação e o intercâmbio de estudantes entre instituições de ensino superior do mundo inteiro — do qual a Unicamp faz parte. O representante de Israel também lembrou que as sete universidades israelenses estão entre as 500 melhores do mundo e são consideradas de primeira classe em muitas áreas. De acordo com ele, Israel é um dos vizinhos mais próximos da Europa em termos de cooperação em pesquisa e terá muito a oferecer à região se for incluído no Processo de Bolonha. O representante da Tunísia, por sua vez, disse que seu país quer adaptar-se ao processo, mas sem deixar de lado a natureza específica de suas próprias instituições.

 

3 de maio de 2009

THATCHERISMO

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 11:17 PM
 
 

Como Margaret Thatcher chegou ao poder

DER SPIEGEL – 05-05-2009

Carsten Volkery
Os soviéticos a apelidaram de "dama de ferro"; o presidente Ronald Reagan a chamava de "melhor homem da Inglaterra" -há 30 anos, Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra do Reino Unido. Foi o início de uma revolução radical do mercado livre que ainda não foi desfeita.

"Sabe, tem épocas, talvez uma vez a cada 30 anos, quando há uma mudança de maré na política", disse o primeiro-ministro britânico James Callagham a um jovem confidente nos últimos dias das eleições parlamentares de 1979. "Aí, não importa o que você diga ou faça. Há uma mudança no que o público quer e naquilo que aprova. Suspeito que agora esteja havendo uma mudança de maré e é pela senhora Thatcher."

Antes dos eleitores irem às urnas, Callaghan já estava deixando seu cargo. A mensagem de "mudança", ao menos para ele, parecia estar levando ao poder a líder da oposição conservadora Margaret Thatcher. Mas sua ascensão não foi tão inevitável quanto Callaghan depois fez crer.

Poucos meses antes, no verão de 1878, a carreira de Thatcher parecia estar no fim. A economia britânica mostrava sinais de recuperação. A inflação, que tinha sido de 26,9% poucos anos antes, estava de volta à faixa de um dígito. O ambiente político melhorara para o Partido Trabalhista, que começou a liderar as pesquisas. Nas listas dos políticos favoritos, o moderado Callaghan deixava Thatcher, com sua fama de extremista, no chinelo.

O "inverno do descontentamento"
De fato, parecia uma época tão boa para o Partido Trabalhista, que o primeiro-ministro considerou pedir um adiantamento das eleições para o outono de 1978. Se assim tivesse feito, Thatcher talvez tivesse perdido, e seus dias à frente dos Conservadores teriam sido contados, segundo seu biógrafo John Campbell em "The Grocer’s Daughter".

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FOLHA DE SÃO PAULO – tem uns rodapés e gráficos que não aparecem na online
São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009
Thatcherismo resiste à crise que fomentou

Consenso ideológico alcançado pela ex-primeira-ministra, que chegou ao poder há 30 anos, resiste às turbulências atuais do capitalismo

Queda da renda do trabalho e boom financeiro criados por Thatcher, diz analista, explicam padrão de gastos a crédito e sua crise atual

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Margaret Thatcher chegou ao poder, exatamente 30 anos atrás, a inflação caminhava para uma taxa anual de 18%, valor muito alto para os padrões históricos no Reino Unido. A nova primeira-ministra lançou mão, então, de uma das primeiras e mais radicais experiências de controle monetário dos preços.
Cortou drasticamente os gastos públicos e elevou taxas de juros, empurrando o país para uma forte recessão. A reação inicial foi de dúvidas e, mais tarde, de aberta oposição, mesmo dentro de seu partido. Preocupados com seus votos, os conservadores pressionavam.
Em 1980, numa conferência do partido, a Dama de Ferro deu uma resposta pública às expectativas então generalizadas de reversão da política econômica: "Se vocês querem dar meia-volta, que deem. A dama não dá voltas".
Trinta anos e outras tantas reformas depois, o thatcherismo é responsabilizado, mesmo por alguns de seus defensores, por criar as bases econômicas e ideológicas que iniciaram o processo que desaguou na atual crise econômica global.
Exatamente como a sua inspiradora, no entanto, o thatcherismo -o atual consenso sobre a melhor relação possível entre Estado, economia e sociedade- não voltará atrás, dizem economistas e historiadores ouvidos pela Folha.
Com o mesmo fervor com que combateu a inflação, Thatcher levaria adiante políticas de privatização, destruição dos sindicatos e desregulamentação financeira que mudariam a relação dos cidadãos comuns com o mercado.
Um amplo processo de privatizações reduziu a contribuição de empresas estatais para o PIB do país de 9%, em 1979, para 3,5%, em 1990. A venda de ações das novas empresas privadas contribuiu para que a parcela da população adulta com ações de negócios britânicos passasse de 7%, em 1979, para 22% em 1993.
Outro impulso para o mercado financeiro veio em 1986, quando o governo desregulamentou os preços de serviços financeiros na bolsa de valores londrina. O fim do "tabelamento" incentivou a disputa entre bancos e financeiras pelas carteiras dos investidores. Os impostos sobre ganhos financeiros também foram reduzidos.
A soma das novas medidas, diz Tim Leunig, professor de história econômica da London School of Economics, atraiu novos bancos e empresas financeiras para a praça londrina e "os volumes de negócios aumentaram enormemente".
Ao mesmo tempo, reformas na legislação trabalhista restringiram a liberdade de greve e o poder dos sindicatos. "A quebra da espinha do movimento sindical fez a economia voltar a respirar", diz Eduardo Giannetti, professor do Ibmec-SP. "O tipo de bloqueio que faziam à modernização da economia destruía o país."
O economista, no entanto, vê na reforma financeira o calcanhar de Aquiles do thatcherismo. "A desregulamentação foi longe demais. Nesse ponto o "modelo Thatcher", na verdade implementado de maneira incremental [também em outras partes e por outros governos], foi longe demais."

Efeitos combinados
Para Massimo Florio, economista da Universidade de Milão, "as raízes da crise atual se relacionam com a combinação" de algumas políticas de Thatcher, especialmente as reformas sindicais e financeiras.
"O enfraquecimento dos sindicatos pode ter tido algum resultado positivo, já que eles resistiam a reformas corporativas que eram necessárias", diz.
"Mas o efeito principal foi contribuir para um decréscimo da renda do trabalho, e para uma distribuição de renda pior. Isso criou as bases para dívidas insustentáveis pelas famílias, que tinham que recorrer a hipotecas e cartões de crédito, que por muitos anos fomentaram um crescimento artificial."
Os efeitos dessa reconfiguração não foram só materiais -para os críticos, a criação de um país mais injusto e desigual; para os seguidores, a revitalização de uma economia antes decadente e paralisada- mas também ideológicos.
"Quando deixei a universidade, nenhum dos meus colegas pensava em trabalhar com negócios. Isso mudou radicalmente", afirma o historiador inglês Kenneth Maxwell. "Não creio que possamos voltar para um modelo de Estado maior."
Segundo Tony Judt, professor da Universidade de Nova York, "as mudanças partidárias foram profundas". "Não há partido político que conte uma história diferente. Mesmo que haja agora maior pressão por gastos do governo, não há a pressuposição de que deve haver uma forte presença do Estado na estrutura da vida econômica."
Também para Giannetti, "não se voltará para o período anterior". "Não há perspectiva. A ideia de que o Estado empresário faz sentido acabou."

Nossa derrota serviu de exemplo político, dizem ex-mineiros grevistas

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BARNSLEY E ORGREAVE

Antes do confronto, eles somavam 200 mil, espalhados por 130 minas de carvão. Vinte cinco anos depois, não passam de 1.800, em apenas seis minas restantes. Nenhuma trajetória expõe tão bem a visão econômica dos anos Thatcher quanto a dos mineiros britânicos, reduzidos a pó depois de uma greve de 16 meses, em 1984 e 1985, que terminou em nada.
Ao quebrar o então mais poderoso sindicato do país, Thatcher fez valer seu programa de fechar as minas, mas conseguiu mais do que isso. Daquele ponto em diante, todos os sindicatos do país sabiam que não era possível contestar o governo, que o neoliberalismo e o enfraquecimento dos direitos trabalhistas estavam ali para ficar.
Nas ruas de casinhas iguais, os tempos difíceis provocados pela recessão dos anos 80 parecem mais distantes, ao menos na superfície. Mas basta surgir o nome de Thatcher para ódios antigos surgirem das profundezas onde estavam enterrados.
"A maioria dos sindicatos viu como ela nos destruiu, então perceberam que não havia nada a fazer, porque senão seriam destruídos também", afirma Chris Kitchen, 42, secretário-geral do que restou da NUM (Sindicato Nacional dos Mineiros, na sigla em inglês), na sede da entidade, em Barnsley.
A economia sofreu uma mudança radical, mas os efeitos das mudanças dos anos Thatcher ainda deixam a região comparativamente pior que outras partes do país.
"Algumas partes do país continuam a sofrer dos problemas econômicos resultantes do declínio do emprego tradicional -especialmente em mineração, aço e manufatura. Esses problemas têm raízes profundas e tem havido progresso em remediá-los", dizia um relatório encomendado pelo então premiê, Tony Blair, em 1999.
O quadro não mudou muito, uma década depois. Outro levantamento, do ano passado, mostra que a diferença entre essa região e as outras estava aumentando. O salário semanal por aqui era um terço menor do que no resto do país.
Na sala que reunia centenas de trabalhadores durante a greve, agora vazia, Kitchen relembra com amargor daquele tempo. Então com 16 anos, ele participou de um dos momentos definidores daquela greve, a "Batalha de Orgreave", quando milhares de grevistas e policiais se enfrentaram, há 25 anos.
"Aquele dia foi o ponto em que me dei conta de que era muito mais do que uma disputa industrial, era uma questão política", diz Kitchen, reclamando da "brutalidade policial" e da "manipulação da mídia".

Descampado
Desde então, o mineiro nunca mais pisou lá. "Não há nada para ver lá."
De fato, no lugar onde milhares de homens trabalhavam em minas de carvão existe hoje apenas um grande descampado, algumas máquinas paradas e meia dúzia de trabalhadores.
"O carvão que tinha aqui acabou faz uns dois anos. Depois que fecharam as minas, a empresa que comprou a área tirou o que restava do carvão a céu aberto e agora não há nada", conta Sam Willoughby, 48, um dos homens que cuidam do local, ele próprio há 28 anos na indústria mineradora.
"A greve foi muito triste. Quando você saía do colégio, se sua família era de mineiros, só havia uma coisa a fazer, e era ir trabalhar nas minas. Meus dois avós trabalhavam, meu pai, meus tios, meus irmãos. A minha geração é a última, isso acabou", afirma.
Entre os que participaram ativamente da greve, a profissão ficou para trás, mas as lembranças continuam. "É tão estranho, toda vez que vou ao trabalho eu sempre passo por ali, onde trabalhei por 18 anos, não tem como deixar a memória para trás", diz John Bebe, 55, que hoje em dia cuida de crianças autistas. "Passei dois anos sem saber o que fazer, me separei, não sei onde foram parar os amigos. Muita coisa fechou, não é o que costumava ser."
O ódio a Thatcher, comum entre os ex-trabalhadores, só é amenizado pela lembrança da Guerra das Falklands (nessa região ninguém se refere ao conflito como Guerra das Malvinas). "Daquilo eu gostei, a velha Maggie foi lá e protegeu o que era nosso, era uma mulher forte, tipo [Winston] Churchill", defende Martin Wainwright, 58, num pub local.

 

Estilo da "dama de ferro" refletia embate de classes

Ascensão de nova classe média não sindicalizada explica triunfos e autoritarismo de Thatcher

Vitória britânica na Guerra das Malvinas também ajudou a consolidar poder e imagem de uma governante que tinha "força e decisão"

DA REPORTAGEM LOCAL
DE LONDRES

As sucessivas eleições e o estilo duro, quase autoritário, de Margaret Thatcher foram o resultado das conquistas e conflitos -econômicos e sociais- do modelo de país que ela ajudou a enterrar.
Uma dessas conquistas foi o poder dos sindicatos e a elevação do padrão de vida dos trabalhadores britânicos. Entre 1978 e 1979, na tentativa de conter a inflação, o então governo trabalhista determinou limites ao aumento de salários de funcionários públicos.
Ferroviários, motoristas de ambulância, lixeiros e coveiros, entre outros, fizeram paralisações em protesto.
Um dos grupos mais insatisfeitos com a "chantagem" e a "desordem" -como viam a situação- impostas ao país pelos sindicatos era uma nova classe média cuja ascensão social se deu justamente como resultado das conquistas do Estado de bem-estar social britânico, vigente desde a década de 40.
Há um exemplo "clichê", diz Tony Judt, autor de "Pós-Guerra" (Objetiva), do representante dessa nova classe, que em 1979 pendeu para Thatcher. "Um corretor imobiliário, cujo pai havia sido operário numa fábrica de carros, e que agora usa gravata, tem sua própria casa, embora na verdade não tenha lá muito dinheiro."
"Essa classe de pessoas que ascenderam socialmente, que não eram sindicalizadas, e pertenciam majoritariamente ao setor de serviços, compunha a "foto" sociológica do eleitor de Thatcher", ele diz.
O também historiador Kenneth Maxwell diz que havia claramente uma oposição entre os dois grupos.
"Era uma situação de crise, e ela recebeu o mandato para enfrentá-la. Capturou essa fantasia de uma classe média que se acreditava o que havia de melhor no Reino Unido do pós-guerra, e entregou o que prometia -uma política fiscal restritiva, limpar e acabar com o poder dos sindicatos."
É possível entender, assim, que seu estilo de confronto -com sindicatos, com a oposição- fizesse tanto sucesso político com os eleitores.

Mineiros e Malvinas
Assim foi forjada a ideia da "dama de ferro", que em 1984 e 1985 enfrentou uma dura greve de mineiros, que durou um ano, sem fazer concessões. Ao final, a derrota desse grupo, somada a reformas trabalhistas, representou uma pá de cal no movimento operário no país.
A consolidação de sua liderança, dizem os historiadores, viera antes, em 1982, durante a Guerra das Malvinas. A vitória britânica sobre a Argentina, que reclamava como suas as ilhas que eram território do Reino Unido desde o século 19, reforçou não só sua imagem como a do próprio país.
Para Tony Judt, Thatcher usou a guerra como "um símbolo duplo": "Da sua força e decisão, e da recuperação do Reino Unido de sua decadência -econômica e imperial- e fraqueza nos anos 70."
Maxwell vê num "comprometimento pessoal" da primeira-ministra a possibilidade de vitória contra a Argentina. "Quando você pensa que as frotas tiveram que atravessar o Atlântico… . Um outro líder, eu creio, teria cedido. Foi aí que o seu caráter durão funcionou", ele diz. "Depois disso, ela se tornou mais e mais autoritária."
O uso que Thatcher fez do apoio e poder acumulados criou uma espécie de paradoxo entre sua atuação política e seus ideais liberais nos campos social e econômico.
A grande defensora da redução dos poderes do Estado centralizou o poder, limitando e até cassando poderes locais. Sete grandes administrações regionais, todas encabeçadas por trabalhistas, foram extintas em 1986, entre eles o Greater London Council.
Em 2000, já sob governo trabalhista, a figura de um "prefeito" para Londres foi recriada. O eleito de certa forma reassumia o poder, embora formalmente os cargos fossem distintos, já que o trabalhista Ken Livingstone administrava a cidade quando sua função foi extinta, em 1986.
No dia da posse, começou assim o seu discurso para os londrinos: "Como eu estava falando antes de ser tão rudemente interrompido 14 anos atrás…".
(RAFAEL CARIELLO E PEDRO DIAS LEITE)

Primeira-ministra restaurou grandeza britânica, diz biógrafo

DE LONDRES

Margaret Thatcher, a mulher mais poderosa do século 20, subiu ao poder muito insegura, para ao longo dos anos 80 se tornar confiante até demais, o que acabou por torná-la arrogante. Hoje, é uma "velhinha" de 83 anos, de memória frágil, mas saúde estabilizada, diz Charles Moore, 52, seu biógrafo autorizado (mas não oficial).
Um dos poucos a terem acesso à vida de Thatcher depois que ela deixou o poder, o ex-editor do jornal conservador "Daily Telegraph" conta que a antiga "dama de ferro" sofreu uma série de pequenos derrames e perdeu a prodigiosa capacidade para os detalhes. (PDL)
 

FOLHA – Qual a importância da infância e do pai para definir a futura baronesa Thatcher?
CHARLES MOORE
– Ela vivia numa cidade provinciana, que não estava em contato com o mundo lá fora. Veio de uma família relativamente humilde, porque seu pai, Alfred Roberts, era um dono de quitanda. Quando ela se tornou política, acreditava fortemente que podia aplicar as lições de comandar uma quitanda para a esfera nacional, o que a tornava muito hostil à presença governamental, a grandes negócios e a impostos pesados. Seu pai deu a ela um forte sentimento de acreditar nos pequenos negócios, na liberdade e no que vem de fora da elite.

FOLHA – Nos últimos anos, o senhor teve um acesso raro à vida de Thatcher. O que mudou dos tempos em que ela estava no poder?
MOORE
– Quando ela entrou no poder, há 30 anos, era muito nervosa, porque sabia que, se desse errado, ninguém iria salvá-la, porque não fazia parte do establishment conservador. Constantemente temia ser derrubada, o que a tornou extremamente ansiosa e batalhadora para fazer o melhor que pudesse. Mas venceu três eleições, e com o tempo ficou mais autoconfiante. A grande mudança foi quando venceu a Guerra das Falklands. Foi aí que soube que não podia ser derrotada dentro do partido e tinha uma enorme chance de vencer as próximas eleições. Mas isso foi em 1982, e no final dos anos 80 ela se tornou confiante em excesso. Em 1990, quando foi tirada do poder por seus colegas, ficou raivosa e confusa sobre o que fazer. Gradualmente, ela se tornou mais distante da política.

FOLHA – O que o sr. definiria como o legado do governo Thatcher?
MOORE
– Ela era obcecada com a ideia de que o Reino Unido tinha fracassado política e economicamente depois da [Segunda] Guerra, e queria restaurar o que ela acreditava serem as qualidades britânicas. De certo modo, não era revolucionária, mas uma restauradora.
Acreditava que o Reino Unido tinha grandes qualidades, que estavam perdidas, e por vários ângulos ela foi bem sucedida nisso, em termos de liberdade econômica e oportunidade e coragem em questões globais.

Frase

"Ela era obcecada com a ideia de que o Reino Unido tinha fracassado política e economicamente depois da [Segunda] Guerra, e queria restaurar o que ela acreditava serem as qualidades britânicas. Acreditava que o Reino Unido tinha grandes qualidades, que estavam perdidas"
CHARLES MOORE
biógrafo de Thatcher

Cena pós-punk pôs Thatcher na mira

Morrissey pediu a cabeça da primeiro-ministra, enquanto outros artistas a culparam pelo desemprego e pela apatia social

Para jornalista, o pop virou manifestação de classe média dirigida ao lucro, alijando uma parcela dos jovens da agitação cultural

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quando você vai morrer?", perguntava sem rodeios o cantor Morrissey em "Margaret on the Guillotine", faixa de seu primeiro disco-solo, "Viva Hate", de 1988. A mensagem violenta da canção do ex-vocalista dos Smiths estava longe de ser um grito isolado no mundo pop durante a gestão Thatcher.
"Eu a odiava com todo o meu coração", contou à Folha Sheryl Garrett, que editou a revista "The Face" nos anos 80, e depois a seção de cultura do jornal "Observer".
Para intelectuais e artistas, Thatcher representava não apenas um governo conservador e autoritário, mas também a principal responsável pelo alto nível de desemprego e por exportar ao mundo a ideia de uma Inglaterra tirânica, que travou uma batalha injusta e desigual contra a Argentina durante a Guerra das Malvinas.
Quando Thatcher tomou posse, o movimento punk já estava em seus estertores. Sua herança, porém, foi expandir o alcance das mensagens que o rock era capaz de transmitir.
Com esse clima favorável ao engajamento político, os grupos de pós-punk, ska e pop tiveram mais liberdade para expressar posições ideológicas.
O ódio contra o regime thatcherista virou então a principal bandeira da música feita nessa época (leia trechos de algumas canções ao lado).
No clipe de "Ghost Town" (1981), os integrantes do The Specials passeiam pelas ruas desertas de uma cidade, fazendo referência ao desemprego e à falta de mobilização social.
Na letra de "Shipbuilding" (1982), Elvis Costello posicionava-se contra a guerra nas Falklands cantando a partir da perspectiva de operários ingleses que construíam os barcos que levavam o exército até lá.
Uma das principais vozes desse período foi o hoje lendário roqueiro socialista Billy Bragg que, ao lado de Paul Weller (The Jam) e Jimmy Sommerville (Communards), fundou, em 1985, o Red Wedge.
A ideia era arregimentar músicos para tentar engajar os jovens na política. Apoiaram greves e, em 1987, pediram que as pessoas votassem no Partido Trabalhista, para evitar uma nova vitória de Thatcher.
De um modo geral, os anos 80 na Inglaterra marcaram o auge da música de protesto. Um dos álbuns emblemáticos dessa época foi "Sandinista" (1980), do The Clash, cujo título referia-se à guerrilha de esquerda nicaraguense.

Arte classe média
Para Garrett, uma das consequências mais importantes das transformações daquele período foi o fato de a nova ordem ter forçado as artes a virarem negócios rentáveis.
"Antes de Thatcher, era comum haver grupos de punk e de artistas de vanguarda de classes mais baixas. Ela pôs fim a isso. No sistema capitalista e individualista que implementou, a arte tinha de dar dinheiro." Para a jornalista, o brit-pop e a gêneros mais comerciais, como a acid house, viraram coisa de classe média ou alta e os jovens com menos recursos foram alijados do cenário.
"Se formos ver com os olhos de hoje, o punk foi um gênero que atingiu diretamente muito pouca gente em números absolutos. Depois dele viriam essas raves para multidões, o pop comercial", explica. Para ela, Thatcher acabou com o espaço para manifestações mais alternativas. "O mal que ela fez está aí até hoje e deve perdurar por muito tempo", conclui.

Para o cineasta Ken Loach, "tudo o que ela fez foi ruim"

DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta britânico Ken Loach, 72, celebrizou-se por suas convicções esquerdistas e pelo teor político que sempre imprimiu a seus filmes.
Exemplos disso são "Terra e Liberdade" (1995), que tratou da Guerra Civil Espanhola, e "Ventos da Liberdade" (2006), sobre o enfrentamento entre rebeldes irlandeses e tropas britânicas, em 1920 -produção que lhe rendeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Mesmo tendo começado sua militância antes do período Thatcher, foi durante esses anos que suas preocupações com as questões sociais da Inglaterra afloraram. Desempregados, sindicalistas e sem-teto passaram a ser tema de seus programas para TV e filmes.
Hoje, Loach segue crítico ao legado thatcherista. Continua achando que "tudo o que ela fez foi muito ruim para o país".
Na opinião do cineasta, a pior transformação pela qual a Inglaterra passou no período foi a perda do espírito de colaboração que havia no pós-guerra para dar lugar a um "individualismo capitalista", disse, em entrevista à Folha, por telefone.
Nos anos 80, Loach teve alguns programas de TV impedidos de irem ao ar. Entre eles, um documentário sobre as dificuldades de líderes de sindicatos para conseguir armar protestos, "A Question of Leadership" (uma questão de liderança) e outro sobre a greve dos mineradores de carvão, "Which Side Are You On? (de que lado você está?)".
"Obviamente não sofri uma censura explícita, mas as emissoras foram pressionadas para não exibi-los. E isso só foi possível porque todos estávamos mais vulneráveis. Ela tinha conseguido diluir esforços e protestos coletivos."
Filho de operários e membro do Partido Trabalhista desde os anos 60, Loach abandonou-o em meados da década de 90. Hoje, critica os líderes que reconheceram coisas positivas do thatcherismo, como o ministro Peter Mandelson e o ex-premiê Tony Blair. "Quando dizem que herdaram algo dela, estão falando a verdade. O problema é que afirmam isso quase comemorando, quando essa herança foi, na verdade, ruim."
Para ele, Thatcher desvalorizou o trabalho e, por consequência, piorou a vida dos que dele dependiam. "Do ponto de vista dela, valorizar o capital era o caminho, e é verdade que fortaleceu a economia. Mas o preço foi empobrecer os operários e a população em geral."
No que diz respeito ao cinema, Loach acha que a era foi negativa por fazer da Inglaterra um país menos variado culturalmente. "Por que vemos cada vez menos filmes da América do Sul, da Ásia e do resto do mundo? Porque cada vez mais só temos grandes cadeias comerciais de cinema no mercado. E isso só vai piorar. A Inglaterra era rica em promover e consumir coisas de fora. Começamos a nos fechar com ela e seguimos nessa trilha." (SC)

 

The iron age

By Brian Groom

Published: May 2 2009 01:42 | Last updated: May 2 2009 01:42

Thatcher’s Britain: The Politics and Social Upheaval of the 1980s
By Richard Vinen
Simon & Schuster £20 403 pages
FT Bookshop price: £16

Margaret Thatcher: Grocer’s Daughter to Iron Lady
By John Campbell
Vintage £14.99, 564 pages
FT Bookshop price: £11.99

A Swim-on Part in the Goldfish Bowl: A Memoir
By Carol Thatcher
Headline Review £18.99 310 pages
FT Bookshop price: £15.19

It is 30 years on Monday since Margaret Thatcher was elected as Britain’s first woman prime minister and 18 years since she was ejected from power by her Conservative colleagues. Yet still it seems that her legacy and significance are being reassessed daily. … … … … … … …. … …. …. … …. …. …. …. …. …. …. …

 

 

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22 de abril de 2009

PACOTE HABITACIONAL

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 8:53 AM
 
 

22/04/2009 – 07h15

Especialista aponta ‘pobreza arquitetônica’ dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida

Claudia Andrade
Do UOL Notícias
Em Brasília
O pacote habitacional lançado pelo governo federal no final de março, com o intuito declarado de gerar empregos e reduzir em 14% o déficit habitacional do país, perde a chance de inovar no ponto de vista arquitetônico. A opinião é de Raquel Rolnik, relatora especial da ONU (Organização das Nações Unidas) para o direito à moradia adequada.

Projeto das casas da Caixa

A cartilha publicada pela Caixa Econômica Federal traz especificações técnicas para as moradias destinadas às famílias com renda de até 3 salários mínimos. As casas de 35m2 (32m2 de área interna) devem ter 2 dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área externa com tanque, com piso cerâmico na cozinha e no banheiro, azulejo e box. O plano prevê ainda laje de concreto ou forro de madeira ou pvc, com cobertura de telha cerâmica, pé-direito de 2,20m na cozinha e banheiro e 2,50m no restante da residência, além da instalação de kit completo de aquecimento solar/térmico

A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) aponta outro problema do programa: o risco de se isolar a população mais pobre em guetos. A especialista analisou o Minha Casa, Minha Vida nesta entrevista para o UOL.

A procura de famílias com renda de até 3 salários mínimos pelo cadastramento no Minha Casa, Minha Vida tem sido grande. O pacote pode frustrar os interessados?
O pacote habitacional do governo deixou claro que não pretendia resolver um problema acumulado durante décadas. Já no lançamento, o governo disse que a meta era reduzir 14% da necessidade real de moradias no país. É claro que está gerando uma expectativa muito grande, mas não se trata de enganar ninguém, porque já ficou claro que não vai acabar com o problema.

Qual a principal vantagem e qual a principal falha do programa?
A principal vantagem é que, pela primeira vez, se mobiliza uma enorme quantidade de subsídio associado ao crédito. As políticas anteriores de habitação só focavam financiamentos, que não atendem pessoas da faixa de renda de maior necessidade, que não têm a menor possibilidade de acesso ao crédito sem subsídio. O ponto falho é que casa não é geladeira, não se produz em série. Moradia adequada é um lugar na cidade, um ponto a partir do qual se tem acesso à condições dignas, emprego, comércio, equipamentos sociais, a um espaço público de qualidade, à cultura. Vai além do abastecimento de água, luz, pavimentação, sistema de esgoto, que, claro, também são necessários.

O pacote não tem nenhuma medida sequer que estimule a produção adequada das moradias, do ponto de vista urbanístico. Deixar essa questão por conta do mercado fará com que a construção dos imóveis para a faixa de renda mais baixa se dê na não-cidade, criando guetos e dando continuação ao modelo de apartheid social que já existe.

Com a implantação de algumas medidas, é perfeitamente possível reverter isso. Hoje, a regulação urbanística é competência dos municípios, prevista no Estatuto da Cidade, que é uma lei federal. Poderia se estabelecer, por exemplo, que aqueles municípios que aplicarem esse tipo de regulamentação receberão mais recursos, ou mais subsídios. Outro ponto importante seria permitir que esses recursos do programa fossem utilizados também para reformas de imóveis públicos e privados, vazios e subutilizados.

MP da habitação tem
mais de 300 emendas*

O relator da medida provisória 459/09 na Câmara, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) terá de avaliar mais de 300 emendas apresentadas por parlamentares. Um dos temas mais abordados por deputados e senadores foi a ampliação do programa para municípios com menos de 100 mil habitantes*Com informações da Agência Câmara

A medida provisória apresentada junto com o pacote não resolveria essas questões de regulamentação urbana?
A MP tem dois elementos. Um deles entra em detalhes sobre como serão liberados os recursos. O outro cuida da regularização de favelas e ocupações irregulares, mas está mais ligado ao PAC das favelas (recursos do Programa de Aceleração do Crescimento destinados à urbanização de favelas); não tem nada a ver com o pacote. No entanto, mais de 300 emendas foram apresentadas à MP e várias delas preveem esses instrumentos de regulação urbanística, então a questão pode ser atendida.

A ampliação do programa para municípios menores pode trazer algum prejuízo para estas cidades?
A justificativa para se atender a municípios com mais de 100 mil habitantes era que essas são as localidades onde o déficit está mais concentrado. Mas, considerando que no caso das famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos o cadastro será feito pelas prefeituras, elas vão ter um grande papel na destinação dessas casas, e isso tem um peso político muito grande, principalmente nas cidades que são base eleitoral de deputados. A pressão e o apelo para se atender a esses municípios menores têm essa natureza.

Mas pode haver algum prejuízo para os municípios menores?
As perversidades e falhas do pacote impactam negativamente tanto os municípios pequenos, como os médios e grandes. O manual de encargos do programa já definiu o tipo de casa ou apartamento a ser construído. Foram critérios que a Caixa Econômica Federal usou apenas para definir o preço dos imóveis. Só que os projetos que forem feitos dentro da tipologia sugerida vão receber recursos mais rapidamente, e esse projeto é de uma pobreza arquitetônica e urbanística impressionante. Com isso, perde-se a chance de os arquitetos terem um campo de experimentação muito rico. É novamente a idéia da fabricação de geladeiras. Casa não é só quatro paredes e um teto. O projeto está mais para Cohab e poderia ser Copan.

A intenção de se incentivar o uso de energia solar em alguns dos imóveis para reduzir o custo com este serviço seria uma tentativa muito tímida de inovação?
Todas as inovações tecnológicas e ambientais são válidas e, se houvesse um pouco menos de pressão e um pouco mais de planejamento, poderíamos trabalhar vários elementos de infraestrutura que não vão ocorrer.

Desenho para apartamentos

Os apartamentos têm área maior, de 42m2 (37m2 de área interna), com 2 dormitórios, sala, cozinha, área de serviço e banheiro. Os prédios devem ter 4 pavimentos com 16 apartamentos por bloco, podendo ser ampliado para até 5 pavimentos com 20 apartamentos. As especificações também preveem piso cerâmico na cozinha e banheiro, laje de concreto, janelas de ferro ou alumínio e portas de madeira. Pé direito de 2,20m na cozinha e banheiro e 2,40 no restante do imóvel. O kit de aquecimento solar também está previsto

As empresas terão interesse em construir casas para as famílias mais pobres?
As empresas têm interesse em vender. Minha grande preocupação é como vão reduzir o custo para poder fazer moradias para este mercado. Fazendo as casas na órbita de saturno, sem viabilizar os instrumentos que permitiriam construí-las em áreas bem localizadas, de forma integrada à cidade.

Quais mecanismos poderiam ser utilizados para se combater de forma permanente o déficit habitacional no país, já que o pacote não acabará com o problema?
Aí cabe uma discussão sobre o próprio conceito de déficit. Todas as abordagens sobre o problema preveem a construção de novas unidades para atender a demanda de 7,2 milhões de moradias. Só que há mais de 6 milhões de casas e apartamentos vazios no Brasil. Então, é mais um problema de acesso ao que está vazio do que de novas construções. E o pacote passa ao largo disso.

Há uma segunda questão que é a seguinte: o governo federal estava seguindo uma trajetória de implantar uma política permanente de moradia, pelo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, com metas a longo prazo. Mas as prefeituras simplesmente interromperam o processo de construção institucional desse sistema.

O pacote é eleitoreiro?
Isso é irrelevante na discussão, porque se alguém vai ter benefício serão prefeitos e governadores de todos os partidos.

Não há o risco de um município ser menos ou mais beneficiado que outro por conta da disputa política?
O pacote definiu a distribuição de acordo com o déficit habitacional. Isso está escrito. Agora, se os deputados decidirem tirar isso do texto, aí muda. E tem emenda para isso.

 
 
 
São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009 MAIS!
Cidades velhas

ZUMTHOR DÁ AS COSTAS PARA A EXUBERÂNCIA DO MERCADO, DIZ MENDES DA ROCHA; PARA O ARQUITETO CAPIXABA, PROGRAMAS DE CASAS POPULARES IGNORAM AVANÇOS DEMOCRÁTICOS


Habitação tem de ser onde o acesso ao trabalho é mais fácil


Martin Ruetschi – 16.mai.00/Efe

Peter Zumthor, vencedor do Prêmio Pritzker de 2009, em seu estúdio em Haldenstein, na Suíça

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Mendes da Rocha está debruçado sobre suas origens. Ou melhor, sobre as águas de suas origens. Aos 80 anos, está mais perto de finalmente inaugurar seu primeiro projeto para a cidade natal, Vitória (ES): o Cais das Artes.
Até 2012, deve ser entregue à cidade um edifício de linhas contemporâneas, que invade as águas da baía de Vitória, feito em concreto e metal.
A construção terá um museu em condições de receber mostras internacionais, com área total de 3.000 m2, além de um teatro de 1.300 lugares e outros espaços (reserva técnica, sede de corpos estáveis, salas para oficinas educativas, entre outras coisas).
Em entrevista à Folha, o arquiteto capixaba radicado em São Paulo fala sobre o Pritzker dado ao suíço Peter Zumthor -que ganhou o Mies van der Rohe para arquitetura europeia, outra honraria importante da área, no mesmo ano em que Paulo Mendes da Rocha recebeu a versão latino-americana -1999.
Discute também projetos similares ao Cais, que utilizam engenhosamente a ligação entre território e edificação, em especial em paisagens portuário-marítimas, como os destinados a Montevidéu (Uruguai) e Alexandria (Egito).
Também não deixa de comentar o que considera nocivo para o urbanismo paulistano, como a manutenção do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de SP) embaixo da marquise projetada por Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera e a não execução de um anexo para a Pinacoteca do Estado, projeto de 1993 que trouxe de novo luzes sobre sua obra arquitetônica.
 
O Pritzker a Zumthor
Peter Zumthor é um arquiteto com uma obra que pensa e reflete profundamente o espaço. O prêmio dado a ele distingue uma arquitetura que está fora da exuberância mercadológica tão presente atualmente no meio. O Pritzker sempre está olhando para o futuro e faz com que uma obra como a dele seja vista e estudada com mais profundidade.

O local do Cais das Artes
É um projeto que, para mim, tem um encanto e uma sedução muito especiais, pois nasci lá. A casa do meu avô era quase em cima do porto, junto do parque Moscoso.
O porto fica na cidade velha, no fundo de um canal formado entre o continente e a própria ilha de Vitória. Na entrada desse canal, portanto, acabou se fazendo uma ponte que liga o continente à ilha, era um território abandonado "in natura" até outro dia.
Há pouco tempo, uns 15, 20 anos, foi feita uma muralha de cais com material da dragagem do próprio canal. Ganhou-se uma área do mar, retificou-se essa frente e prolongou-se uma avenida.

O programa
Este projeto contempla um teatro capaz de exibir óperas. Portanto, deve ter todos os recursos de orquestra, fosso, capacidade para 1.300 pessoas. E há um museu de arte moderna; hoje toda cidade importante do mundo tem seu MAM. O projeto tem de organizar essa praça de 70 metros por 300 metros na frente do mar. O lugar é esplêndido, porque você assiste aos trabalhos do mar, num desfile constante de navios para lá e para cá, rebocadores, lanchas de práticos. Ou seja, é uma cidade que se pode ver ali amparada pelos trabalhos.

Dificuldades
É um território de Marinha, ganho do mar, com problemas de lençol freático superficial.
Nós fizemos o teatro levantado do chão, o que dá a ele uma impostação de liberdade no chão, com galerias laterais.
E, junto da avenida, fica a parte de serviço, a entrada dos artistas, fundo de palco, espaço para cenários.
O grande salão, de onde se desce para a plateia, está debruçado sobre as águas do mar.
Nós pusemos toda a sustentação, os pilares, dentro d’água. Nos fundos do teatro, as janelas abrem para o mar.
De Vila Velha para Vitória, há uma navegação muito interessante de passageiros. Há desde grandes transatlânticos de turistas a lanchas, embarcações menores, que se dirigem para os recintos turísticos da baía, riquíssimos.
Esse lugar, assim, toma um certo ar veneziano. De quem constrói enfrentando as águas.

A influência de Reidy
O museu é desenvolvido de modo linear ao longo do mar, mas levantado do chão, para que desde a avenida você não tenha tolhida a visão do mar, dos navios e do lado de lá do canal. É bom lembrar que o MAM do Rio de Janeiro, do [Affonso Eduardo] Reidy, já é assim também -ou seja, diante de uma paisagem belíssima, você procura, sempre que pode, que um grande edifício não seja uma pedra no chão.

A influência portuária
Eu nunca saí de Vitória, não é? Do ponto de vista da minha formação, essa cidade sempre teve uma importância grande. Quem nasce num porto de mar, tem uma educação peculiar.
Há uma visão das virtudes da natureza, dos seus fenômenos, mas também das engenhosidades humanas. Um porto atrai e abriga inexoravelmente catraieiros, estaleiros, máquinas, ligações especiais com o tempo, com os horários…
Quem nasce num porto de mar tem tudo para ser sábio. Acostuma-se a ver a natureza não como uma simples paisagem, mas sim como um conjunto de fenômenos. Se o outro diz que é doce morrer no mar, nós, entretanto, achamos que não convém [risos].

A Biblioteca de Alexandria
Você deve ter uma atenção especial com essa disposição espacial "sui generis" para o enfrentamento das águas, é uma questão universal e muito interessante. Basta ver a Holanda toda, por exemplo.
A necessidade de saneamento nessas áreas alagadas, inundadas, de baixios, abrir canais, corrigir as marés.
Santos teve um trabalho magnífico do Saturnino de Brito. A população não tem consciência disso. E é por isso que as nossas cidades vão para o brejo.
No concurso para a Biblioteca de Alexandria [Egito], em 1988, saí do terreno exclusivo que deram, na frente do mar, mas separado por uma avenida.
E, avançando sobre as águas, há o que chamam de Península dos Faraós. Fizemos um grande túnel, que atravessa a avenida. Você rompe a avenida como obstáculo e usa toda a península como se fossem os jardins da biblioteca, com dois anexos.
É um partido arquitetônico que enfrenta uma espacialidade nova e necessária, num lugar extraordinário.
Não é simplesmente destinar um terreno para fazer um casarão como outro qualquer, para resolver um programa da biblioteca. Isso é fácil resolver.
A própria biblioteca também teria um pequeno porto. Você desembarcaria na biblioteca livre do trânsito de automóveis, pelas águas de um lugar que tem uma história, uma monumentalidade.

Montevidéu
Ao seminário que eu fui, em 1998, o tema era a baía de Montevidéu. É uma baía rasa, imprópria para a navegação.
A ideia era fazer uma avenida circular em volta da baía. A mesma questão de sempre, você fica com uma avenida de tráfego intenso, que impede a aproximação com a frente das águas. A própria avenida tem um lado só, o outro lado não serve para nada.
Como a baía não produz praias, não tem atrativos, surgiu a ideia de retificar as frentes, aterrar as esplanadas horizontais, inclusive com material dragado da própria baía, e mostrar que essa água morta passa a ter uma virtude incrível.
Ou seja, ela pode ser intensamente navegável de um lado para o outro, aliviando o tráfego de automóveis e criando um hábito novo para a população.

As vias elevadas em Vigo
Na Universidade de Vigo [projeto para a cidade espanhola, de 2004, em construção], a questão é enfrentar uma topografia muito enérgica e violenta. O terreno é escabrosamente vertiginoso, pode-se dizer assim. A partir de uma certa costa, mais ou menos numa posição de anfiteatro natural. Portanto, não surgiu a ideia de continuar fazendo muro de arrimo, estradas difíceis.
Era melhor construir uma via elevada na mesma cota, fazendo os novos prédios de maneira vertical, associados a essa rua elevada.
Os novos edifícios nascem todos desse viaduto. Aqui em São Paulo é fácil entender isso: o edifício Matarazzo, o Conde Prates e o antigo prédio da Companhia Light são edifícios que têm entradas pela cota do viaduto e pela cota do vale do Anhangabaú.
Vigo, assim, não tem nada de extraordinário nem de novo. A via elevada resolve uma série de problemas e facilita o encontro dos estudantes, a frequência e a convivência entre eles, que é muito difícil no descalabro de uma cidade feita num terreno montanhoso.

Minha Casa, Minha Vida
De maneira geral, todos os chamados planos habitacionais são erráticos porque não amparam a questão essencial da moradia, que é o endereço.
Habitação tem de ser junto do transporte público, nas áreas mais centrais, onde o acesso ao trabalho é fácil.
A grande questão da habitação é a construção da cidade.
Se você considerar uma cidade como as nossas, com mais de 5 milhões de habitantes, não pode fazê-la inteira pensando em palácios, museus, teatros.
Isso são adereços indispensáveis à cidade. Mas ela é feita de milhões de casas, que têm de saber conviver com o comércio, com acesso à saúde, à educação, ao transporte público.
Portanto, é um problema muito mais complexo do que simplesmente fazer um determinado número de casas, no caso 1 milhão.
Esse contrassenso de se afastar das áreas centrais é até explicável pela ideologia das classes mais ricas.
Mas a cidade bem feita é sempre um espaço democrático. Isso apavora esse pessoal que gosta de morar afastado.
Não percebem que, com isso, destroem a sua própria cidade, a sua própria moradia. Eu não sei como é que se faz para educar os filhos na adolescência em condomínios fechados. Estão produzindo monstrengos.

O anexo da Pinacoteca
É uma ideia do Emanoel Araujo, que era o diretor da Pinacoteca no tempo da reforma que fiz lá.
A ideia era transformar o que hoje é uma escola estadual em uma instituição de caráter museológico, que formaria de carpinteiros, eletricistas e montadores de exposições até museólogos, críticos, como um anexo da Pinacoteca do Estado.
Queria até fazer uma pequena ponte para a passagem de pedestres, alta, que ligasse um daqueles terraços altos da Pinacoteca atual ao outro lado do novo edifício.
A ideia é brilhante. Hoje, uma grande dificuldade dos museus é arranjar um corpo de funcionários capaz de gerir tudo aquilo. É uma coisa para fazer, não há o que discutir.
Esse é um projeto da cidade de São Paulo, qualquer arquiteto pode fazer, um pouco mais assim, um pouco mais assado.
Não estou dizendo que quero fazer, não sou catador de projetos. É um projeto que qualquer pessoa de bom senso faz.

O MAM-SP
A tragédia do parque Ibirapuera é o MAM, porque é fruto de um engano absurdo. Se é um museu, tem de respeitar as artes e, muito particularmente, a arquitetura, como manifestação artística.
O museu se enfiar embaixo da marquise é uma estupidez que não é possível ser feita por um museu. O grande empenho do MAM deveria ser de sair debaixo da marquise e liberar a entrada do Pavilhão da Bienal. Você não pode usar um quadro de Picasso como tela para pintar outro quadro e dizer que aproveitou a tela. Foi o que fizeram com a marquise.
Não vejo razão para ficar inventando novos museus [o antigo prédio da Prodam se tornará um museu de arte popular até 2011] enquanto um está desamparado, como o MAM.

QUEM É PETER ZUMTHOR

DA REDAÇÃO

Nascido em 1943, o suíço Peter Zumthor fabricou móveis em madeira e foi mestre de obras antes de ser reconhecido como um dos principais arquitetos do mundo. No domingo passado, foi anunciado como o ganhador do Prêmio Pritzker deste ano, que lhe será entregue em 29 de maio.
O trabalho de Zumthor, que estudou em Basileia e Nova York, é reconhecido por aliar a austeridade e a rigidez do estilo moderno às condições histórico-geográficas de cada obra -como o Museu de Arte Kolumba, em Colônia (Alemanha), construído sobre uma igreja bombardeada.
As termas de Vals (Suíça) são consideradas sua obra-prima; nas palavras do professor australiano Miles Lewis, "um soberbo exemplo do detalhamento simples que é usado para criar espaços altamente atmosféricos", em que "luz e água são empregados para esculpir os espaços".
Recluso, Zumthor habita uma vila suíça onde, com sua equipe reduzida -não mais de 15 pessoas-, cultiva os hábitos de recusar a maioria das encomendas que recebe e de controlar todas as fases da elaboração de seus projetos.

 
A indústria da forma

FRANK LLOYD WRIGHT, MORTO HÁ 50 ANOS, E A BAUHAUS, CRIADA HÁ 90 ANOS, REDEFINIRAM O DESIGN E A ARQUITETURA DO SÉCULO 20

EUCLIDES SANTOS MENDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dos materiais aos conceitos que determinaram o surgimento da arquitetura moderna, o norte-americano Frank Lloyd Wright e os alemães da Bauhaus -encabeçados por Walter Gropius- tiveram papel de destaque em sua renovação, em meio à cultura industrial em ascensão nas primeiras décadas do século 20.
Em entrevista à Folha, o professor do departamento de arquitetura e urbanismo na USP, em São Carlos, Luiz Recamán explica que Lloyd Wright é responsável por algumas das conquistas definitivas da arquitetura no século 20, como a ruptura com as formas tradicionais e a relação entre espaço construído e paisagem.
A Bauhaus, por sua vez, vinculava, segundo Recamán, "indústria e artesanato, artes e ofícios, até a sua configuração definitiva, que aproximava essa escola da indústria alemã e da produção serial".
Recamán também fala da contribuição fundamental desses dois símbolos modernistas na formação da arquitetura contemporânea.
 

FOLHA – Qual é o legado de Lloyd Wright para a arquitetura hoje?
LUIZ RECAMÁN
– Um dos mestres da arquitetura moderna, ele desenvolveu uma obra original na qual enfrentou os dilemas da modernização norte-americana e a tentativa de constituir uma civilização de massa, moderna e democrática.
A ruptura com o espaço da tradição, em sua nova configuração moderna, contínua e infinita, e a relação da arquitetura com a paisagem foram conquistas definitivas para a arquitetura do século 20.
Pode-se destacar a grande relação que estabeleceu entre a arquitetura e a existência concreta das formas da vida social.

FOLHA – "O importante é a vida cotidiana": como essa frase de Lloyd Wright reflete sua percepção sobre como deve ser a arquitetura?
RECAMÁN
– Sua arquitetura pretendia ser o abrigo das relações humanas, entendidas como o enfrentamento direto com o ambiente -que, no caso dos EUA, deveria ser instaurado.
Família, comunidade e trabalho criariam o sentido da existência em um mundo moderno a ser construído, ao mesmo tempo livre da tradição e preservado dos impulsos alienantes e de abstração da sociedade de massas.

FOLHA – A "honestidade" -isto é, o uso explícito de materiais disponíveis- e a "simplicidade" -construções sem muitos detalhes vistosos-, palavras de peso dos arquitetos e críticos de vanguarda do modernismo, também nortearam o trabalho de Lloyd Wright?
RECAMÁN
– Parcialmente, já que essa intensificação do sentido do espaço não poderia abrir mão de certa sobrecarga simbólica da matéria, ainda que livre dos estilos históricos.
Então, a pureza dos materiais implicava seu significado humano e cultural alcançado nesse isolamento violento do homem americano em uma natureza adversa.
Pedra, madeira e tijolo não poderiam ser aliviados de sua carga experiencial. De maneira contrária, a vanguarda europeia se empenhou, por motivos vários, na "dessemantização" das formas na arquitetura, procurando sua racionalidade construtiva objetiva, sua funcionalidade programática e uma sensibilidade abstrata do espaço.

FOLHA – Em artigo de 1901, "Arte e Ofício da Máquina", Lloyd Wright diz que "o único futuro da arte e do ofício está na máquina". A Bauhaus propunha, por sua vez, uma interação entre arte e indústria. De que maneira a arquitetura teve sua face alterada pela entrada das máquinas em ação na vida cotidiana?
RECAMÁN
– Mesmo percebendo o sentido transformador da civilização da máquina, Lloyd Wright pretendeu atrelar à manufatura um sentido criativo, próximo das "artes e ofícios" da virada do século na Europa. Isso pode soar estranho hoj
e, mas a coincidência plena entre indústria e standard é um fenômeno do século 20, a partir do fordismo. Esse debate (entre "tipo" e "unidade") esteve presente na Bauhaus até 1923, quando o produto em série passa a ser seu objetivo principal.
Essa "guinada" marcou definitivamente a arquitetura moderna, que passou a ser então a elaboração da "célula" e sua articulação no território neutro (tábula rasa), até a grande crise dos anos 1930.

FOLHA – Como se expressava, na Bauhaus, o gosto radical do seu fundador Walter Gropius?
RECAMÁN
– Gropius formulou as principais teses da Bauhaus desde sua origem, que vinculava indústria e artesanato, artes e ofícios, até a sua configuração definitiva, que aproximava essa escola da indústria alemã e da produção serial, no contexto de crise política dos anos 1920.

FOLHA – Como dois dos maiores símbolos da arquitetura moderna no século 20 (Lloyd Wright, nos EUA, e a Bauhaus, na Alemanha) se influenciaram mutuamente?
RECAMÁN
– A conquista da espacialidade moderna na arte e arquitetura se deu no início do século 20 pelas vanguardas europeias e pelas experiências de Wright das "casas de pradaria".
Mas, se essa liberação do "espaço da tradição" foi como que simultânea e pode ser detectada uma influência mútua (como é o caso do neoplasticismo e de Mies van der Rohe), deve-se considerar uma grande diferença entre os construtos.
Pois o "eixo" wrightiano, pelo qual orbitavam os espaços da casa, possuía um sentido instaurador da nova significação da natureza pelos pioneiros americanos -elemento inexistente na configuração moderna europeia.

FOLHA – Quem teve mais influência sobre a arquitetura brasileira: Lloyd Wright ou a Bauhaus?
RECAMÁN
– A grande influência na arquitetura moderna brasileira foi [o arquiteto suíço] Le Corbusier, por motivos que não podem ser discutidos aqui.
A ênfase habitacional e "social" da Bauhaus não fazia, e continua não fazendo, muito sentido no nosso processo de modernização. Seu "racionalismo frio e europeu", determinado pela aceleração fordista, não poderia ser transportado para o Brasil moderno.
Quanto a Wright, sua influência é indireta, já que o espírito instaurador e ilimitado da ocupação pioneira é de outra ordem no sistema colonizador brasileiro.
Mas, sem dúvida, a necessidade de criar espaços a partir do nada -territorial, simbólico e social- deve ser uma angústia que compartilhamos.
A mais importante aproximação foi com a obra de Vilanova Artigas [1915-85; projetou o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde ensinou], na conformação do amplo espaço de uma sociabilidade que deveria ser inaugurada em ambiente hostil (no caso de Wright, a vastidão do território e das pradarias; no caso de Artigas, a iniqüidade das nossas cidades).

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12 de abril de 2009

IIRSA

Filed under: Política Econômica — Porfiro @ 11:18 PM

Neoinstitucionalismo-não-organizacional: a alvorada do pensamento internacionalista

Alexandre Hönig Gonçalves*

Resumo:

Esta obra procura pensar a Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Sul-americana – IIRSA –, demonstrando as especificidades do processo e buscando enquadrá-la segundo as teorias internacionalistas de integração dos Estados. Para tanto, foi empregada uma pesquisa exploratória qualitativa, com a finalidade de proporcionar ao leitor o exame do tema em questão, sob um enfoque diferenciado, gerando novas discussões e conclusões, que pautam a construção de uma nova teoria para o rol das escolas de integração no estudo contemporâneo das relações internacionais, o “neoinstitucionalismo-não-organizacional” .

Palavras-chave:

Relações Internacionais; Soberania; Economia Internacional; Meio Ambiente.

Nova rodovia dará ao Brasil acesso limitado ao PacíficoInteroceânica, no Peru, tem obstáculos estruturais e políticos para virar corredor de exportação

Além da instabilidade social do país vizinho, limitações de circulação na rodovia podem atrasar projeto de integração comercial

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL AO PERU

Distrito de Marcapata, Departamento de Cusco, Peru. Sob chuva forte, um paredão de 150 metros se desprende da montanha e desaba sobre a estrada. Mais de 250 mil toneladas de escombros soterram a rodovia. O trabalho de meses fica sob os Andes. Não tem sido nada trivial o esforço econômico e político do governo vizinho para a construção dos mais de mil quilômetros da Rodovia Interoceânica, projeto de US$ 2 bilhões que conectará o Brasil e o Peru, vizinhos que dividem uma fronteira de 3.000 km. Mais que isso: proporcionará ao Brasil acesso ao Pacífico.

…. …. ….. reportagem grande…..

sobre IIRSA ver tb na pagina do BID…

tem  no blog.uol
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Brasil, via BNDES e Itamaraty, reforça caráter regressivo da integração latino-americana
ESCRITO POR VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO, DA REDAÇÃO
TERÇA, 18 DE OUTUBRO DE 2011
 Os protestos indígenas que tiveram lugar na Bolívia nas últimas semanas contra o presidente Evo Morales, notabilizados pela marcha contra a estrada que corta o Parque Tipnis (Território Indígena y Parque Nacional Isiboro Sécure), deixaram os setores progressistas do continente latino-americano em situação desconfortável. Afinal, não há dúvidas de que o presidente Morales sofre pesada resistência da direita e de setores conservadores, internos e externos, em função de seu esboço de um projeto de nação de enfrentamento ao imperialismo.Para descrever este cenário, o Correio da Cidadania entrevistou o sociólogo Luis Fernando Novoa Garzon, estudioso do território e dos povos amazônicos, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Garzon não traça um quadro otimista para aqueles que têm esperanças na institucionalidade boliviana. O segundo mandato de Evo tem sido palco indubitável de uma série de concessões ao agronegócio e, na mesma medida, de uma fissura profunda no pacto político que deu sustentação ao governo até o momento. Diante da incapacidade do presidente em estabelecer canais de comunicação com as comunidades e representações indígenas das terras baixas bolivianas, está em andamento um “processo sistêmico de organização das terras agrárias bolivianas, especialmente as terras baixas, não ocupadas, no sentido de atrair investimentos privados. Há um processo de regularização fundiária em curso que o governo boliviano vem protagonizando, o que significa o enfraquecimento da estruturação comunitária da terra no país. E quando falamos comunitária, falamos de organização indígena tradicional”.Neste contexto, tem desempenhado um papel preponderante o Brasil, através de seu grande banco de investimento, o BNDES, e também do Itamaraty. Ambos têm se colocado como meras pontas de lança de empresas brasileiras no exterior, uma vez que negligenciam, ou mesmo desprezam, procedimentos de consulta popular efetivos, que levem em conta os interesses de comunidades locais, e também requisitos ambientais e tecnológicos mais apropriados para a promoção do crescimento. Reproduzem no exterior o mesmo modelo que se pratica internamente, patrocinando grandes grupos econômicos na condução de vultosas obras, que reforçam o caráter primário-exportador das economias latino-americanas e o sentido regressivo de integração do continente.

Garzon chama, finalmente, a atenção para as falsas e sorrateiras vozes salvacionistas que podem aparecer em meio a estes acontecimentos, aquelas precursoras dos famosos ‘selos verdes’ e da tão propalada ‘economia sustentável’. Apropriam-se em parte do sedutor discurso público voltado ao progresso, a ele associando as infinitas possibilidades de medidas ‘conservacionaistas’ para o meio ambiente. Neste meio de caminho, nada mais fazem do que reforçar “uma agenda tão colonial ou impositiva quanto a agenda do progresso que vem a reboque dos projetos das grandes empresas brasileiras”.

Em face de uma dinâmica nefasta para os povos, estes mesmos têm assumido o protagonismo de suas existências. Como o demonstrou bravamente o povo boliviano, que conseguiu politizar novamente o tema do desenvolvimento, ao sair em massa às ruas para questionar o destino que está sendo imposto ao país.

Leia abaixo entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: A Bolívia, país tão parca e tendenciosamemte divulgado em nossa mídia, está agora no olho do furacão. O que você teria a dizer sobre os intensos protestos de parte dos movimentos indígenas contra o presidente Morales e a orientação dominante do partido de sustentação do governo, o MAS (Movimento ao Socialismo), notabilizados pela marcha contra a estrada que corta o Parque Tipnis?

Luis Fernando Novoa Garzon: Primeiro, é preciso…..

CHE GUEVARA – FILME

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 11:46 AM
 

Mentiras sobre Che me levaram a escrever sobre meu amigo de infância, diz autor de livro

Fabiana Uchinaka
Do UOL Notícias – 12/04/2009
Em São Paulo

 

SINOPSE

O diretor Steven Soderbergh filma com distanciamento quase documental dois momentos na vida do lider revolucionário Ernesto "Che" Guevara: a campanha para a tomada do poder em Cuba, em 1959, e a visita à ONU em Nova York, em 1964.

 
 
Revolucionário e guerrilheiro latino-americano

Ernesto "Che" Guevara

14/6/1928, Rosário, Argentina
9/10/1967, Higuera, Bolívia

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

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Ernesto Guevara, também conhecido como CHE

”Filme chega em boa hora aos EUA”

Sexta-Feira, 27 de Março de 2009 – O Estado do São Paulo

Rodrigo Santoro, que vive Raúl Castro em Che, fala do sucesso americano do longa e de sua carreira, no Brasil e no exterior

Luiz Carlos Merten

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Rodrigo Santoro não se esquece da emoção que sentiu ao assistir a Che com uma plateia de 4 mil pessoas no gigantesco Teatro Karl Marx, durante o Festival de Havana, em dezembro. Após a Mostra Internacional de São Paulo, a que compareceu para acompanhar Benicio Del Toro na exibição do díptico de Steven Soderbergh sobre o lendário guerrilheiro, na noite de encerramento do evento, Santoro foi à Espanha para prestigiar, também lá, a estreia do filme. Che bateu a bilheteria dos blockbusters de fim de ano na Espanha e, nos EUA, encontrou seu público na costa Oeste e na Leste. Em Los Angeles, as duas partes foram lançadas simultaneamente. Não houve ainda, pelo menos por enquanto, lançamento no meio-Oeste, onde habita a maioria silenciosa dos EUA, o eleitorado de George W. Bush. … … … … … continua
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"Che foi meu personagem mais díficil"

Premiado pelo papel do guerrilheiro no longa de Steven Soderbergh, Benicio Del Toro diz que a obra "respeita a história’

À Folha, ator afirma que se vê em Rodrigo Santoro, intérprete de Raúl Castro no longa, e conta que tem planos de se tornar diretor

Sexta-Feira, 27 de Março de 2009 – Folha de São Saulo

 

O ator mexicano Demián Bichir, como Fidel Castro, e o porto-riquenho Benicio Del Toro, como Che, discutem a estratégia da Revolução Cubana, em cena do filme

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Como se sente sendo um símbolo?", pergunta a repórter de TV ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara (Benicio Del Toro), em "Che", épico do americano Steven Soderbergh, cuja primeira parte -"O Argentino" (2h06)- estreia hoje no Brasil.
É 1964, e Che está em Nova York, onde desafiou a assembleia da ONU com um discurso afirmativo da Revolução Cubana, incluindo a execução de dissidentes: "A pátria ou a morte!". Del Toro, 42, nascido em Porto Rico e criado nos EUA, fala sobre como foi dar corpo ao símbolo Che, na entrevista a seguir, feita durante a Mostra de Cinema de São Paulo, em outubro passado.

 

FOLHA – Notou diferença ao interpretar um personagem que de fato existiu em relação aos ficcionais?

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CINEMA/ESTREIAS Crítica/"Che" –  Folha de São Paulo – 27mar2009

Biografia desafia tabus de Hollywood e busca a verdade por trás do guerrilheiro

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Che", o prazer vem em grande medida da coincidência entre o mito e o filme. Steven Soderbergh vê Ernesto Guevara como o seu tempo o enxergou: jovem intrépido, idealista, inteligente, acima da pátria. Em suma, um revolucionário, o revolucionário latino-americano por excelência num tempo em que isso dizia alguma coisa.
"Che" funciona antes de tudo por contraste. Trata-se de mostrar alguém disposto a mudar o mundo, que fazia disso o sentido da existência mesmo que à custa da própria vida. Ainda há algo mais: o reencontro com uma época em que esse tipo de ideal não era uma aberração.
E daí? -pode-se sempre objetar. Com o marxismo fora de combate, o reencontro com um personagem como Che seria inócuo, desprovido de eficácia política. Pode ser. Mas política não é tudo na vida. A verdade é mais. E a empreitada consiste em aproximar mito e fatos, em buscar a verdade de Guevara.
Aqui, encontramos o Che em dois tempos: antes e depois da vitória da Revolução Cubana. Ele começa como um médico disciplinado, mas já líder cuja responsabilidade cresce até tornar-se comandante da guerrilha de Fidel Castro. Depois da vitória, torna-se ministro e responsável por defender Cuba na ONU, quando as Américas unem-se para combatê-la.

Aventura
O filme é um desafio a vários tabus hollywoodianos. O primeiro, biografar sem prejulgamentos um líder político contrário aos EUA. Ou seja, esse Che não é homem admirável pelo seu idealismo e condenável pelas suas crenças. Os dois vão juntos. Ou os mais de dois: o médico, o revolucionário, o estrategista e, por que não, o galã por quem as mulheres ficavam caídas. O segundo tabu não é mais simples de vencer: cercar-se de atores latinos e filmar na língua certa, espanhol.
Estamos no reino da aventura, como em "Onze Homens e um Segredo". Só que agora não se rouba um cassino: toma-se o poder. Não é inconsequente este movimento: existe um bocado de aventura a recuperar na revolução. Nesse sentido, é um filme da euforia: quase o "Cantando na Chuva" de um século que se abre com poucas perspectivas.
Pois o fundamento político do filme está menos nos regimes em causa do que na observação, a partir da trajetória do Che, este Prometeu moderno, de que, se a Revolução Cubana mudou nos últimos 50 anos, e não necessariamente para melhor, o resto do mundo também caminhou, e não necessariamente para frente. A que se opõe Guevara, além do capitalismo? A um mundo de especialistas, de falas autorizadas, de autoridades nisso e naquilo. Ou seja, o nosso.


CHE

Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA, Espanha, França, 2008
Com: Benicio Del Toro, Catalina Sandino Moreno, Rodrigo Santoro
Onde: em cartaz no Espaço Unibanco Augusta, Villa-Lobos e circuito
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: ótimo

PARTE DOIS NÃO TEM DATA DE ESTREIA

"A Guerrilha" (2h11 de duração), segunda parte de "Che", enfoca os 341 dias que o guerrilheiro passou na selva boliviana, planejando a revolução naquele país, até ser capturado e morto. O diretor queria lançamento simultâneo dos filmes. No Brasil, não há data fixada para a estreia da parte dois.

 

 
 

SINOPSE

Aos 23 anos, Ernesto Guevara, antes de se tornar "Che", sai de Buenos Aires para uma viagem de moto pela América do Sul com o amigo Alberto Granado

DADOS DO DVD

  • Extras: Três cenas inéditas: "Roubando Vinho" (o jovem Guevara rouba vinho), "Sobrevivendo ao Felix", "O Piloto Cego"; "Ouvindo os Leprosos" (cena que parece improvisada em que Gael ouve testemunho dos doentes); entrevista com Alberto Granado com seqüência de fotos
 
 
 
 
 
 
 
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7 de abril de 2009

DILMA ROUSSEFF

Filed under: Sem categoria — Porfiro @ 9:03 AM

 

Jornalista denuncia má fé da Folha e armadilha contra Dilma – 06/04/2009

Jornalista denuncia má fé do jornal Folha de S.Paulo em matéria que tenta envolver a ministra Dilma Rousseff em um suposto plano para sequestrar Delfim Neto durante a ditadura militar. "Chocou-me a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário", denuncia Antonio Roberto Espinosa.

Redação – Carta Maior

O jornalista Antonio Roberto Espinosa, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), autor de "Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe", encaminhou uma carta à redação da Folha de São Paulo, protestando contra a edição da entrevista por telefone que concedeu ao jornal. Segundo ele, a Folha preparou uma “armadilha” para a ministra Dilma Rousseff usando uma entrevista que concedeu a uma das suas repóteres da sucursal de Brasília. Na carta que encaminhou à redação, ele denuncia a má fé dos editores do jornal. Segue a íntegra da correspondência:

Prezados senhores,

Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).

Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;

6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.

Osasco, 5 de abril de 2009

Antonio Roberto Espinosa

Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.

 
 

"Folha produz manchete para aparecer na propaganda de Serra"

Neste domingo, tivemos mais um capítulo da Operação 2010 patrocinada pela Folha de São Paulo. A quem serve a manchete que o jornal pôs em sua primeira página? "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto", diz o jornal da famílias Frias. No texto da primeira página, e na matéria interna, há a negativa de Dilma. Mas, a manchete está aí: prontinha pra ser usada no programa eleitoral em 2010. O artigo é de Rodrigo Vianna.

Rodrigo Vianna

Do blog Escrevinhador, de Rodrigo Vianna:

A Operação 2010 já começou. Neste domingo, tivemos mais um capítulo, na "Folha". A quem serve a manchete que o jornal pôs em sua primeira página? "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto", diz o jornal da família Frias.

Vejam: trata-se de uma afirmação. O jornal não atribui a informação, no título, a ninguém. Afirma. E ponto.

No texto da primeira página, e na matéria interna, há a negativa de Dilma. Mas, a manchete está aí: prontinha pra ser usada no programa eleitoral em 2010.

Serra sabe que não poderá atacar Lula (o presidente seguirá popular até 2010). O negócio é desconstruir Dilma. Colar nela a imagem de "guerrilheira".

Ah, dirão alguns: a "Folha" fez só o seu trabalho. Expôs fatos. Trouxe de volta a "memória da ditadura". Esse é o "chapéu" (pequeno título) que aparece acima da matéria, nas páginas internas da "Folha".

Louvo o objetivo do jornal. A "Folha" quer vasculhar a "memória da ditadura"? Ótimo! Mas, queremos memórias completas. Não pedaços de dossiês, vazados sob interesse eleitoral. Queremos memórias completas também sobre a atuação de empresários como Otávio Frias no apoio a torturadores aqui no Brasil. Material e testemunhas não faltam.

Mas, voltando à “reportagem” sobre Dilma: a ministra reagiu à repórter e ao jornal. Dilma não é besta. Sabe o que se arma contra ela.

Gostei de uma das respostas que ela deu à repórter. "minha filha, esse seu jornal não pode chamar a ditadura de ditabranda, viu? Não pode, não. Você não sabe o que é a quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha e é torturado (…) Não dá pra chamar de ditabranda, não."

A moça da “Folha” também perguntou se Dilma faz “mea culpa” por ter feito guerrilha.

A “Folha” quer “mea culpa” dos outros. E o “mea culpa” do jornal sobre seu apoio a torturadores?

“Cidadão Boilesen” ganhou prêmio de “melhor filme no festival “É tudo Verdade”. Agora, falta um outro filme: “Cidadão Frias”.

 
 
FOLHA DE SÃO PAULO, 05-04-2009
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

MEMÓRIA DA DITADURA

Grupo de Dilma planejava sequestrar Delfim

Ex-integrante da cúpula da organização terrorista dá detalhes do plano, do qual a ministra declara jamais ter tido conhecimento

Delfim confirma localização de sítio mostrado em um mapa, apreendido durante a ditadura, que indicava onde o sequestro seria realizado

FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Luiza, 22, abandonou a faculdade de economia e agora sabe montar e desmontar um fuzil de olhos fechados. Na clandestinidade, seu grupo planeja uma das ações ousadas da luta armada em 1969 contra a ditadura militar: o sequestro de Delfim Netto, símbolo do milagre econômico e civil mais poderoso do governo federal.
Quarenta anos depois, o antigo alvo é agora aliado de Luiza, aliás Dilma Rousseff, na empreitada que tenta fazer da ex-guerrilheira, também conhecida à época como Estella, Wanda, Marina e Patrícia, a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ambicioso sequestro era uma espécie de "lenda urbana" entre poucos militantes de esquerda nos anos 70. Sem mencionar o nome de Dilma, foi citado de passagem no livro "Os Carbonários" (1981), do hoje vereador carioca Alfredo Sirkis (PV), e esquecido. Na página 180, há uma citação ao possível sequestro do ministro: "Preparavam, na época, o sequestro do ministro Delfim Netto". A Folha obteve documentos inéditos e o primeiro testemunho de um dos idealizadores do plano.
Antonio Roberto Espinosa, 63, doutorando em Relações Internacionais na USP, contou à reportagem segredos que diz não ter revelado sob tortura. Ex-comandante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), assumiu que coordenou o plano.
Mais: afirmou que os quatro outros integrantes da cúpula da VAR-Palmares concordaram com o sequestro do então ministro da Fazenda, que sustentava a popularidade dos generais com um crescimento econômico de 9,5% em 1969.
"O grupo foi informado. Os cinco [ele, Dilma e os outros três dirigentes da VAR] sabiam", disse Espinosa, no primeiro relato que aponta o envolvimento de Dilma, negado, porém, "peremptoriamente" pela ministra à Folha.
Em um dos processos que condenou militantes da VAR, consultados no Superior Tribunal Militar, há um mapa da emboscada e outro que sugere o local do cativeiro do sequestro planejado.
A ação tinha data e local definidos. Seria num final de semana de dezembro, durante uma das visitas do ministro a um sítio no interior de São Paulo.

A "juba", o cofre, o Fusca
Em 1969, a hoje ministra experimentava a vida clandestina com audácia. No Rio de Janeiro, ela e a amiga Iara Iavelberg, namorada do líder guerrilheiro Carlos Lamarca, foram cortar o cabelo no salão Jambert, que servia champanhe aos clientes. Iara, de acordo com o livro "Iara – Reportagem Biográfica", de Judith Patarra (editora Rosa dos Tempos), quis arrumar a "juba fora de moda" da companheira -para valorizar o rosto e os olhos dela- e sugeriu também roupas novas.
A extravagância foi bancada depois da ação que deu fama à VAR-Palmares: o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, guardado na casa da amante dele, com cerca de US$ 2,4 milhões. Dilma não participou diretamente do crime.
Mas, de acordo com depoimentos e relatórios policiais, ela administrou parte do dinheiro roubado para bancar salários de militantes, achar abrigo para eles e comprar um Fusca cinza. Como não sabia dirigir, ela escalava uma colega da VAR como motorista.
Do carro, Dilma se lembra. Do dinheiro, não. "Não me lembro que eu era do dinheiro. Se fosse, eles tinham me matado a pau. Tudo o que eles queriam era o dinheiro", afirma.
Dilma-Luiza havia chegado ao comando da organização após um racha que, logo depois do roubo do cofre, levara à saída de Lamarca, Iara e um expressivo grupo de militantes em um tumultuado congresso em Teresópolis (RJ).
A ministra ficou na VAR, trocou o Rio por São Paulo e assumiu a missão de evitar debandada ainda maior.
A VAR priorizava o recrutamento de estudantes e de operários, sem abandonar os planos de ações armadas esporádicas. De forma colegiada, de acordo com Espinosa, a cúpula decidiu sequestrar Delfim e montar uma fábrica de explosivos acionados por controle remoto em uma fazenda na serra da Mantiqueira (entre São Paulo e Minas Gerais).
Além de Dilma, assumiram o comando do grupo Espinosa (Hélio), Carlos Araújo (codinome Max, o segundo marido da ministra) e os hoje mortos Carlos Alberto Soares de Freitas (Breno) e Mariano Joaquim da Silva (Loyola).
Ouvido pela Folha, Araújo afirmou que não se recorda do plano nem de nenhuma ação armada depois do racha. Ressaltou, no entanto, que não é "boa fonte", pois perdeu parte da memória do período depois de ter sido torturado.
Ao longo de uma hora de conversa com a Folha, Dilma disse algumas vezes não se lembrar da ideia de capturar o ministro e duvidar "que alguém lembre".
Ao saber do testemunho dado por Espinosa, ela declarou que o ex-colega "fantasiou". No final da entrevista, pediu que registrasse a sua "negativa peremptória".

O sítio, o plano, a queda
Classificado como "alvo fácil" por militantes e militares, Delfim era também um alvo antigo. Antes da fusão entre Colina (Comando de Libertação Nacional) e VPR, que resultou na VAR-Palmares, Juarez Guimarães de Brito, militante da Colina e mentor do roubo ao cofre de Adhemar, havia utilizado o emprego no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) para levantar os passos do pai do milagre econômico.
O sequestro nunca foi executado porque os principais envolvidos na ação começaram a ser presos semanas antes.
Coordenador do plano, Espinosa foi capturado em 21 de novembro de 1969, no Rio. "Ainda levaria 15 ou 20 dias. Aconteceria por volta de dezembro. O comando nacional sabia, não houve nenhum veto. Mas não detalhou o plano do ponto de vista político. Havia uma preparação militar que não estava concluída", disse ele.
Caberia aos outros integrantes do comando nacional decidir os procedimentos políticos, como o conteúdo do manifesto e as exigências para libertar o refém. A repressão, contudo, foi mais rápida.
O mapa com a indicação do local onde a organização planejava agir foi apreendido em um "aparelho" em Lins de Vasconcelos, no Rio. Dividiam a casa de dois andares o casal Espinosa e Maria Auxiliadora Lara Barcelos, além do estudante de medicina Chael Schreier, que foi preso vivo e chegou morto ao Hospital Central do Exército. Com o trio, foi encontrado um arsenal de armas, munições e explosivos, além de levantamentos de áreas onde o grupo tencionava agir.
Espinosa disse à Folha que os mapas apreendidos só podiam ser os dele. "Tínhamos o endereço, sabíamos tudo. Era um local em que ele [Delfim] ia sem segurança porque imaginava que ninguém soubesse."
A Folha encaminhou cópia do mapa a Delfim, que confirmou ter frequentado um sítio na região indicada em vermelho de forma simplificada na folha de papel já amarelada. Trata-se do Sítio Gramadão (cujo nome aparece no mapa), de propriedade do cunhado e melhor amigo, Mario Nicoli, próximo a Itu e Jundiaí, no interior paulista.
Delfim contou à Folha que recebeu recomendações para redobrar o cuidado diante da onda de atentados promovida pela esquerda contra o regime. Mas disse não saber do plano da VAR e que nunca deixou de andar com pouca, ou nenhuma, segurança.

Ex-guerrilheira é elogiada por militares e vista como "cérebro" do grupo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Gritos de "mata", "tira a roupa" e "terrorista filha da puta" receberam Luiza-Dilma no primeiro dia de prisão no pátio do prédio da rua Tutoia, no Paraíso, zona sul de São Paulo. No local funcionava a Oban, sigla da Operação Bandeirante, estrutura que integrava as polícias civis e os serviços de inteligência das Forças Armadas.
As sessões de palmatórias, choques, chutes e socos até hoje são tratadas com reticências pela ex-guerrilheira. "Você não sabe o que é a quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha." Segundo o Tortura Nunca Mais, ela ficou 22 dias no local. Para Dilma, "foi muito tempo" a ponto de não entender por que todo mundo ia embora, menos ela.
"A Oban era pau, puramente interrogatório. O preso ficava lá até considerarem que não havia mais como conseguir informações", recorda o hoje economista José Olavo Leite Ribeiro.
A ministra foi uma guerrilheira que até hoje impressiona os militares. Colecionou epítetos superlativos nos relatórios da repressão, que a definiram como "um dos cérebros" de esquemas revolucionários.
"Era a grande dirigente da VAR-Palmares. Era realmente boa guerrilheira. A gente tem que respeitar ambos os lados", disse à Folha Maurício Lopes Lima, integrante de uma equipe de busca da Oban, na época capitão do Exército e agora militar da reserva de 73 anos.
Foi a primeira vez que aceitou falar de Dilma. Ele nega tê-la torturado, mas não diz o mesmo dos colegas. "A história dela era furada demais."
Com a militante a tiracolo, ele visitou diferentes pontos de São Paulo em busca de informações. "Ela se preparou mais para jogar conosco. É gato e rato. Ela tenta fugir, a gente tenta encontrar", explicou ele.
À Justiça Militar Dilma citou Lima como um dos torturadores. Disse ter recebido visita no presídio Tiradentes, onde ficou por três anos, da equipe chefiada pelo capitão, que a ameaçou com novas agressões uma semana antes desse depoimento, em 21 de outubro de 1970. À Folha, porém, ela afirmou que o militar jamais a torturou, mas não o eximiu de responsabilidade. "Ele entrava na sala e via tortura, tenho certeza."

Depoimento
Em 26 de fevereiro, 40 dias depois de presa, Dilma havia assinado depoimento à Polícia Civil com detalhes de sua trajetória e nomes de colegas das organizações em que militou.
Diante da Justiça Militar, ela reconheceu sua assinatura, mas repeliu todas as declarações -segundo ela, obtidas sob tortura. A Folha obteve a íntegra dos dois depoimentos, assim como dos relatórios dos órgãos da repressão que mencionam Dilma, hoje arquivados no Superior Tribunal Militar.
Em 20 de janeiro de 1969, sem saber que ela estava presa, o operário Natael Custódio foi a um encontro marcado com Luiza-Dilma. Foi capturado. "Ela foi muito torturada e levou a polícia. Não teve jeito", diz o agora caminhoneiro que vive em Londrina (PR).
Custódio, 65, não se diz atormentado com o passado. Lamenta, sim, o fato de a ministra nunca ter respondido a carta que ele enviou. "Depois que chegam lá em cima, fica difícil. Mas gosto demais dela." O caminhoneiro há cinco anos escreveu pedindo ajuda para ser anistiado. Ainda não desistiu de receber a indenização.
Quando ficou presa no prédio da Oban, Dilma indicou endereços e acompanhou policiais a ao menos uma casa de militantes. Segundo ela, indicavam-se "pontos [local de encontro] para parar de apanhar". Custódio, contudo, não é um dos quatro nomes de companheiros presos logo depois da captura da guerrilheira. No depoimento da auditoria militar, Dilma citava que "em consequência direta de sua queda caíram Maria Joana [Teles Cubas], João Ruaro, Savério [Carlos Savério Ferrante] e Vicente [José Vicente Corrêa]".
Dilma confirmou à Folha ter dito que os quatro colegas caíram porque ela havia sido presa. "É. Caíram, ponto." A reportagem localizou Ferrante, que não quis falar sobre a prisão.
Para o delegado Newton Fernandes, que investigou a VAR em São Paulo e traçou o perfil de 30 dos 70 integrantes, Dilma era muito mais do que a responsável pela distribuição do dinheiro. "Através de seu interrogatório, verifica-se ser uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pelas esquerdas radicais", diz no relatório, cujo conteúdo nem a ministra conhecia.
O promotor que denunciou a VAR disse que Dilma "chefiou greves e assessorou assaltos a bancos" e a definiu como "Joana d’Arc da subversão". A comparação hoje provoca gargalhadas da ministra. (FO)

 

MEMÓRIA DA DITADURA

Aos 19, 20 anos, achava que eu estava salvando o mundo

Dilma diz não ter a mesma cabeça da época em que era guerrilheira, mas se orgulha de não ter mudado de lado, e sim de métodos

Reprodução

Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu

FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

UMA DAS três sentenças de prisão de Dilma Rousseff, de 1971, a descreve como a inimiga que "jamais esmoreceu" desde que ingressou na luta armada contra o regime instalado pelo golpe de 31 de março de 1964 e dissolvido 21 anos depois. Leia a entrevista da ministra sobre a vida na clandestinidade durante a ditadura.

FOLHA – A sra. se lembra dos planos para sequestrar Delfim e montar fábrica de explosivos?
DILMA ROUSSEFF
– Ah, pelo amor de Deus. Nenhuma das duas eu lembro. Nunca ninguém do Exército, da Marinha e da Aeronáutica me perguntou isso. Não sabia disso. Acho que não era o que a gente [queria], não era essa a posição da VAR.

FOLHA – A sra. logo percebeu que a clandestinidade seria o caminho natural?
DILMA
– Percebi. Todo mundo achava que podia haver no Brasil algo muito terrível. O receio de que um dia eles amanheceriam e começariam a matar era muito forte. Sou bem velha, comecei em 1964. Com o passar do tempo, o Brasil foi se fechando, as coisas foram ficando cada vez mais qualificadas como subversivas. Era subversivo até uma música, uma peça de teatro, qualquer manifestação de rua. Discutir reforma universitária era subversivíssimo. Coisas absolutamente triviais hoje eram muito subversivas.

FOLHA – Foi escolha da sra. o trabalho no setor de mobilização urbana?
DILMA
– Qual era a outra alternativa?

FOLHA – Havia a expropriação.
DILMA
– Disso eu nunca quis ser. Nós não achávamos isso grande coisa. A partir de um determinado momento houve uma visão crítica disso, do que a gente chamava militarismo. É muito difícil falar isso porque as pessoas ficam achando que a gente está limpando a barra. Não me interessa ficar falando nisso, é da época e deu. Eu sei que havia uma tensão eterna. Nunca concordávamos uns com os outros porque pensávamos diferente. Bota todo mundo junto, você imagina. Não posso dizer o que aconteceu dentro da direção.

FOLHA – No Rio, a sra. acompanhou a fusão e acompanhou o racha [da VAR] em Teresópolis.
DILMA
– Na minha cabeça, eu só lembro que a gente conversava e discutia muito, debatia. Tinha uma infraestrutura complexa porque a gente não saía de lá, não podia aparecer. Bom não era. Mas, naquela época, você achava que estava fazendo tudo pelo bem da humanidade. Nunca se esqueça que a gente achava que estava salvando o mundo de um jeito que só acha aos 19, 20 anos. Sem nenhum ceticismo, com uma grande generosidade. Tudo fica mais fácil. Tudo fica mais justificado, todas as dificuldades. Você não ter roupa não tem problema. Às vezes, andava com uma calça xadrez e uma blusa xadrez.

FOLHA – A sra. faz algum mea-culpa pela opção pela guerrilha?
DILMA
– Não. Por quê? Isso não é ato de confissão, não é religioso. Eu mudei. Não tenho a mesma cabeça que tinha. Seria estranho que tivesse a mesma cabeça. Seria até caso patológico. As pessoas mudam na vida, todos nós. Não mudei de lado não, isso é um orgulho. Mudei de métodos, de visão. Inclusive, por causa daquilo, eu entendi muito mais coisas.

FOLHA – Como o quê?
DILMA
– O valor da democracia, por exemplo. Por causa daquilo, eu entendi os processos absolutamente perversos. A tortura é um ato perverso. Tem um componente da tortura que é o que fizeram com aqueles meninos, os arrependidos, que iam para a televisão. Além da tortura, você tira a honra da pessoa. Acho que fizeram muito isso no Brasil. Por isso, minha filha, esse seu jornal não pode chamar a ditadura de ditabranda, viu? Não pode, não. Você não sabe o que é a quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha e é torturado. Porque essa quantidade de líquidos que nós temos, o sangue, a urina e as fezes aparecem na sua forma mais humana. Não dá para chamar isso de ditabranda, não.

FOLHA – Quando a sra. foi presa, foram apreendidos documentos falsos, desenho da VAR e um bilhete de amor com as iniciais TG. Era do Cláudio Galeno Linhares?
DILMA
– Não, era do Carlos Araújo. Era apelido dele. Se você quiser me mandar, eu agradeço. Onde que está isso, hein?

FOLHA – No inquérito arquivado no STM. O bilhete está assim: "Nêga querida, infelizmente não poderei estar aí [no Natal]. Verás na prática, prometo-te…" DILMA – Essa quantidade de te, você acha que é de mineiro, pô? Isso é de gaúcho. Tudo no te… Não falei do Carlos no depoimento. Eles acreditavam que era o Galeno. Carlos era da direção, eu não podia abrir a boca. Depois eles descobriram.

FOLHA – Como foi, durante os dias de Oban, para conseguir proteger a direção? Pelo que vi, alguns nomes não foi possível proteger como Maria Joana Telles, Ruaro, Vicente…
DILMA
– Eles sabiam deles porque tinha caído outra pessoa que era da direção. Foi por isso que caí. Eu caí porque caiu outra pessoa.

FOLHA – Era com quem a sra. teria um encontro. O José Olavo?
DILMA
– Essas coisas eu não quero falar, minha filha. Não quero dar responsabilidade para ninguém. Estou muito velha para fazer isso.

FOLHA – No depoimento da Justiça, a sra. cita os quatro como tendo caído em consequência direta de sua queda. A sra. dá os quatro nomes?
DILMA
– É. Caíram, ponto.

FOLHA – Eu conversei com o hoje coronel, antigo capitão Maurício… DILMA – Ele existe ainda? Ele já não batia bem da bola. Ele continua sem bater?

FOLHA – Eu perguntei se ele votaria na sra. para presidente. Primeiro, disse não. Depois, pediu para retificar dizendo que "depende com quem vai concorrer".
DILMA
– Minha querida, pelo amor de Deus. A vida é um pouquinho mais complicada que isso. Mas respeito o que ele falou.

FOLHA – Ele participava das sessões [de tortura]?
DILMA – Ele era da equipe de busca, nunca participou. Mérito dele. Pelo menos enquanto estive na Oban. Não posso dizer depois. Você tinha aquele negócio de dar ponto para parar de apanhar, e ele levava as pessoas. Ele fez a busca em toda a minha casa. Pegava minhas coisas e perguntava sobre elas.

FOLHA – No depoimento à Justiça, a sra. cita ele como responsável pelas sessões de torturas.
DILMA
– Que ele torturava pessoalmente, nunca vi. A mim não foi. Que ele entrava na sala e via tortura, tenho certeza. Qualquer um entrava. Te torturavam com a porta aberta.

FOLHA – Li uma entrevista em que a sra. diz que fez treinamento no exterior, mas não consegui encontrar o período em que isso pode ter acontecido. Deu tempo de sair do Brasil para treinar?
DILMA
– Acho engraçadíssimo porque quando me perguntaram isso, eu neguei que tivesse feito. É que nem aquela lista que sai aí dizendo que eu fiz dez assaltos armados. Nunca fiz uma ação armada. Se tivesse feito, eu estaria condenada por isso. É a mesma coisa essa história do treinamento. Nunca fiz nem treinamento no exterior nem ação armada. É só perguntar para as pessoas.

FOLHA – Incomoda a sra. atribuírem essas ações a seu nome?
DILMA
– É chato. Não sou supermulher para dizer que não me incomoda. Agora não perco a cabeça por isso. Estão mentindo, têm segunda intenção.

FOLHA – Não teve treinamento no exterior, mas o básico todo mundo sabia como montar e desmontar uma arma. Era questão de segurança do dia a dia?
DILMA
– Sempre fui muito dedicada, mas não achava isso grande coisa. Nunca fiquei avaliando se devia fazer isso ou aquilo. Não se colocava assim para nós. Falavam assim: "Vai ali e aprende a montar e desmontar a arma". Você ia e aprendia. "Vai ali e escreve um documento." Você também ia.

FOLHA – Como era o dia a dia da prisão? Algumas companheiras de cela dizem que a sra. dava aula de macroeconomia, mas não gostava muito dos trabalhos manuais de tricô e crochê…
DILMA
– Aprendi bem. Sei fazer tricô e crochê. Você sabe que faço tapete? Mas não aprendi tapete lá, não. Fazia muito bem crochê. Podem falar que eu não fazia… (risos) No fim, gostava de fazer crochê. A gente lia muito, escutava muita música, conversava muito, jogava vôlei. [As aulas] estão fantasiando…

FOLHA – A sra. tinha consciência que continuava na mira da polícia mesmo depois da prisão?
DILMA
– Tinha. Não podia fazer aniversário que ficavam pendurados nas árvores, olhando.

FOLHA – Quando tem o racha, quem assume a VAR?
DILMA
– Não me lembro. Se o Espinosa tá dizendo que eu estava… Não sei se fui, se não fui [do comando]. É um período muito pequeno até a queda. Fui uma das primeiras a cair. Eu lembro que eu fui em outubro para São Paulo e nunca mais voltei [ao Rio]. Fiquei lá junto com todo mundo que dirigia a VAR na época. Só me lembro do José Olavo e de mais um. Tinha mais. Tinha quatro.

FOLHA – Muita gente dizia que a sra. era a responsável pelo dinheiro da organização. A sra. era o caixa de São Paulo, para manter militantes, aparelhos?
DILMA
– Também não me lembro disso, não, que eu era do dinheiro. Se eu fosse do dinheiro, eles tinham me matado a pau. Tudo o que eles queriam era o dinheiro. Não lembro isso, não. Não me lembro de ter caído com um tostão. Se eu tivesse dinheiro, ia ser um festival.

FOLHA – O delegado ficou bem impressionado com a sra. depois do interrogatório. A ponto de defini-la como uma pessoa com dotação intelectual apreciável.
DILMA
– Interessante… Da onde ele tirou isso, né? Nem me lembro dele. A gente não dava importância para o delegado do Dops, só para a Oban. Deve ter vindo da Oban. Tinha um juiz auditor louco (risos). Ele fez uma denúncia dizendo que eu era a Joana d’Arc do terror. Era ridículo. Ele era dado a essas…

FOLHA – É muito divertido o perfil que o delegado traça.
DILMA
– Essa parte não era pública, essa parte do delegado. Você conseguiu um documento único. A Oban classificava a gente pelo nível de perigo. O major Linguinha [Waldir Coelho] só interrogava quem ele achava que era direção. Ele falava comigo sempre.

FOLHA – A sra. não pegou o delegado Sérgio Fleury no Dops?
DILMA
– Quando entrei no Dops, o Fleury estava em viagem. Passei quase um mês na Oban e um mês no Dops. Eu custei a ir embora da Oban. Achava estranho eu não ir embora. Todo mundo ia, e eu ficava. Eu não lembro a data. Vai ficando muito obscuro, como foi e como é que não foi.

FOLHA – Vocês passavam por um treinamento intensivo para deletar as coisas. Tinha que esquecer para não contar?
DILMA
– Uma parte você tentava esquecer. Sabe que teve uma época em que eu falei uma coisa que eu achava que era verdade e não era. Era mentira que eu tinha contado e aí depois eu descobri que era mentira. Você conta e se convence.

FOLHA – Informação obtida sob tortura é de responsabilidade de quem tortura e não de quem fala? Dá para culpar a pessoa que falou?
DILMA
– Não dá mesmo. Até porque ali, naquela hora, tinha uma coisa muito engraçada que eu vi. Aconteceu com muita gente, não foi só comigo. É por isso que aquela pergunta é absurda, a do senador [Agripino Maia, do DEM]. A mentira é uma imensa vitória e a verdade é a derrota. Na chegada do presídio [Tiradentes], estava escrito "Feliz do povo que não tem heróis", que era uma frase do Brecht que tem um sentido amplo. Esse fato de não precisar de heróis mostra uma grande civilidade. É preciso que cada um tenha um pouco de heroísmo.

FOLHA – Quando a sra. chegou à Oban, houve muitos gritos?
DILMA
– Teve. Fazia parte do script. É uma luta eterna entre a sua autodestruição e sua luta para ficar inteiro psicologicamente. A palavra correta é uma disputa moral no sentido amplo da palavra moral. É uma disputa entre éticas diferentes, entre princípios diferentes. Uma pessoa que se dispõe a fazer a outra ter dor tem um processo de difícil identificação. Fico imaginando o que foi Abu Ghraib, porque bota de um lado americanos e de outro lado um outro mundo. Você tem de ser desqualificado como ser humano para ser torturado, santa, senão você não é.

FOLHA – E a família da sra., como reagiu a isso tudo?
DILMA
– Minha mãe foi absolutamente fantástica. Eles tinham horror de mãe.

FOLHA – Só para deixar claro, a sra. não se recorda desse plano para sequestrar o Delfim?
DILMA
– Não. Acho que o Espinosa fantasiou essa. Sei lá o que ele fez, eu não me lembro disso. E acho que não compadece com a época, entendeu? Nós acabamos de rachar com um grupo, houve um racha contra a ação armada e vai sequestrar o Delfim? Tem dó de mim. Alguém da VAR que você entrevistou lembrava-se disso? Isso é por conta do Espinosa, santa. Ao meu conhecimento jamais chegou. Não me lembro disso, minha filha. E duvido que alguém lembre. Não acredito que tenha existido isso, dessa forma. Isso está no grande grupo de ações que me atribuem. Antes era o negócio do cofre do Adhemar, agora vem o Delfim. Ah, tem dó. Todos os dias arranjam uma ação para mim. Agora é o sequestro do Delfim? Ele vai morrer de rir.

FOLHA – De qualquer forma, obrigada por tocar nesse assunto delicado…
DILMA
– Eu estou te fazendo uma negativa peremptória. Para mim, não disseram. Tá?

 

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